Horas extra feitas há um ano e nunca pagas, falta de pessoal, salários "miseráveis", pressão e repressão sobre os funcionários, baratas, comida de má qualidade. São as queixas dos trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim. Hoje cumpriram um dia de greve, mas, se a direção não se sentar à mesa para negociar, vão denunciar a situação à Segurança Social e podem voltar a parar.
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"Trabalhávamos, com equipas em espelho, 12 horas por dia, seis dias seguidos. Estivemos assim de março a agosto. Nunca recebemos essas horas", afirma Célia Vareiro, ajudante de ação direta na Unidade de Cuidados Continuados (UCC) de longa duração e dirigente do CESP (Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal).
"Somos muito poucos. Sai gente e não entra ninguém. Os utentes é que ficam à espera e isso não é mau trato? Há pessoas que iam para casa, muitas vezes, a chorar por não conseguirem fazer o trabalho todo em condições", continua a contar.
Trabalha ali há 17 anos. A pandemia trouxe "mais trabalho". A ganhar o salário mínimo, Célia nunca baixou os braços. Com 250 funcionários e mais de 120 idosos residentes (em lar, UCC de média e longa duração e pensionato), estiveram sempre "na linha de frente".
"Não somos reconhecidas. Tratam-nos abaixo de lixo", acrescenta Fátima Guerra, a quem custa, sobretudo, nunca ter ouvido "sequer um "Obrigado". Em abril de 2020, foi suspensa "por exigir máscaras e álcool gel". Tem 33 anos "de casa". Voltou, mas as represálias continuaram.
Há 23 anos na Santa Casa, Ilda Monteiro continua "ajudante de 2.ª". Ganha o salário mínimo: "Nunca subi de categoria. São 665 euros e o respeito não é nenhum".
"Temos baratas a passear pelas paredes dos quartos", denuncia ainda, acusando a direção de cortar até nas desbaratizações obrigatórias.
O jantar foi, "tantas e tantas vezes", "ovos cozidos". É que ali o subsídio de alimentação é pago em refeição e a qualidade, denunciam, é "degradante".
Já com a greve marcada, a direção da instituição andou a "apontar nomes" e fazer "pressão". Depois, quis sentar-se à mesa com o sindicato, a fim de evitar a paralisação. "Promessas sim, "preto no branco" nada". Uma segunda reunião ficou marcada para a próxima semana. Se não houver acordo, as funcionárias prometem não desistir da luta.
"Se for necessário, vamos denunciar a situação à Segurança Social [que subsidia as valências de lar e UCC]", garante Marisa Ribeiro, do CESP.