Os trabalhadores da Auto-Sueco, na Maia, iniciaram esta terça-feira uma greve que se prolonga até sexta, e contaram com a presença do secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, que é trabalhador da empresa. Em causa está a luta por aumentos salariais justos.
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São quatro horas de paragem por dia, a coincidir com a mudança de turno, sendo que cada trabalhador cumpre duas horas de greve diárias, numa forma de luta que se entende até sexta-feira, “por aumentos salariais dignos”. “A empresa tem uma política de aumentos salariais de que o sindicato e os trabalhadores discordam completamente”, denuncia o dirigente da CGTP, de 43 anos, que é mecânico na Auto-Sueco desde 1998 e contesta o aumento proposto, que resulta, em média, numa subida de 40 euros no subsídio de alimentação. Os funcionários reivindicam um aumento de 150 euros no salário.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras – SITE Norte, afeto à CGTP, a representante da Volvo em Portugal, com instalações em Vila Nova da Telha, na Maia, onde trabalham cerca de 30 pessoas, anunciou “uns muito insuficientes 4% de aumentos salariais”. Mas - aponta o SITE - “não cumpriu” os aumentos anunciados, já que “foram integrados, na sua maioria, nos subsídios de alimentação”. A estrutura sindical considera a atuação da Auto-Sueco “vergonhosa”, uma vez que “os salários efetivamente não aumentaram 4%, e, ainda por cima, a empresa não entrega a sua parte das contribuições à Segurança Social do valor que os trabalhadores recebem a mais”.
“A empresa veio dizer que o ano de 2023 foi dos melhores anos de sempre e, mesmo assim, a proposta que apresenta é irrisória e completamente à margem daquilo que é a nossa reivindicação fundamental”, o que “causa uma revolta muito grande”, sublinha Tiago Oliveira, lembrando que a Auto-Sueco tem “lucros brutais”, embora apresente “sempre algum pretexto para haver dificuldades no aumento dos salários”. “A justificação que dão agora é de que a perspetiva da empresa é ter um recuo [nos lucros] este ano e, por isso, não podem ir mais longe”, refere.
“É o terceiro ano seguido que a empresa tem lucros sempre em crescendo, e continuamos a deparar-nos com uma política que não conseguimos compreender, numa empresa de uma dimensão enorme e que tem a responsabilidade de corresponder a quem trabalha todos os dias e precisa do seu salário para viver”, vinca o sindicalista, que assumiu a liderança da CGTP no passado mês de fevereiro.
“Cada vez estamos com os salários mais esmagados, e cada vez sentimos mais o aumento do custo de vida, que os salários não acompanham. Já passamos por um período de dez anos sem aumentos salariais [entre 2009 e 2019], e não queremos voltar a esse período; queremos aumentos dignos e que nos permitam ter uma vida melhor”, afirma o também operário da Auto-Sueco, indicando que os trabalhadores reivindicam “150 euros de aumento para todos”, uma vez que o valor proposto pela empresa “fica muito aquém das necessidades”.
“Estou no sindicato há alguns anos e, até hoje, não tive a sorte – hei-de ter, um dia – de sentar-me à mesa de negociações com um patrão e que ele dissesse que estava em condições de responder às reivindicações dos trabalhadores. Há sempre alguma dificuldade”, critica Tiago Oliveira, que considera que as empresas assumem, assim, uma política de “acumulação de lucro à custa de quem trabalha”.
José Salazar trabalha há 44 anos na Auto-Sueco, e está desanimado. “Veem-nos como números e dão-nos uns tostõezinhos”, lamenta. “Dão-nos um aumento para este ano metido no subsídio de alimentação, e isso não é um aumento do ordenado. Quem ganha mil euros, só vai receber mais 40 euros no subsídio de alimentação. No nosso ordenado não há aumento nenhum”, queixa-se. Vítor Sousa também está desolado. “Tudo de bom que esta empresa tinha foi acabando”, lastima, enquanto recorda que “cortaram o 15º mês” e que “há anos não há aumento do subsídio de transporte”.
Tiago Oliveira adianta que, caso não haja respostas positivas por parte da Auto-Sueco às reivindicações, os trabalhadores vão “voltar a fazer plenários para continuar a luta”.