O único rendimento que têm é uma reforma de 175 euros. Reinaldo e Odete, uma vida dedicada ao circo, aguentam-se com o pouco que conseguiram amealhar e da generosidade de vizinhos. Três ursos, enjaulados no reboque do camião, esperam por destino.
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Sem actividade por causa da crise, os proprietários do Magic Circo vivem da ajuda da comunidade de Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses. Falta o dinheiro. Reinaldo Torralvo e Odete Silva enfrentam dificuldades, ainda, para alimentar os três ursos e o burro Pavarotti.
A situação dos ursos - enjaulados num espaço pequeno para o tamanho dos animais e onde não abunda a luz solar - tem causado preocupação por quem lá passa. E já correm alertas na internet. O caso está a ser acompanhado pelo veterinário municipal.
Com a entrada em vigor de legislação que proíbe a exibição de animais no circo, os proprietários vêem-se desesperados sem saber o que fazer com os ursos.
Doença "traiu" domador
Reinaldo Torralvo era o tratador e o domador dos ursos na pista. Porém, um acidente vascular cerebral deixou-o sem as faculdades para fazer aquilo de mais gosta: cuidas dos seus "meninos". "Um deles é alimentado a biberão", conta, emocionada, Odete Silva, ex-trapezista, agora mulher-palhaço, apesar de ostentar as cicatrizes de um ataque que sofreu.
"Apesar do que fizeram à minha mulher acha que fui capaz de fazer-lhes mal? Nem pense nisso", assegura Reinaldo Torralvo.
O presidente da Junta de Vila Boa do Bispo, António Teixeira, garante que tem ajudado na procura de uma solução. "Mas, até agora, ninguém resolveu o problema, apesar das autoridades conhecerem o caso. Desde Março que andamos nisto. Até ver, ninguém os aceitou. Se fossem para abate, o assunto já estava resolvido, mas o dono do circo não aceita que se dê um fim desses aos animais", explicou o autarca.
"Ninguém os tira daqui para os matar. Tão de matar-me a mim primeiro", garantiu Reinaldo. O Jardim Zoológico da Maia e a Quinta de Santo Inácio, em Gaia, já terão sido contactados para acolher o trio de ursos, mas, até agora, o pedido ainda não teve uma resposta positiva.
Subsiste o problema que atormenta a vida do casal. Os filhos fizeram-se à vida e foram trabalhar para outros circos, porque o negócio da família está parado. O pequeno Magic Circo andava pelas aldeias e vilas da região. "As crianças adoravam. Mas um circo sem palhaços e sem animais não é circo", desabafa Odete.
"Olhe, não sei que faça, não sei que pense. É viver um dia após o outro e ver se o dia de amanhã é melhor do que o de hoje", continuou a ex-trapezista.