Daniel e Laurinda, deficientes motores, viram o tribunal penhorar-lhes o carro adaptado para pagamento de uma dívida. Nunca mais saíram à rua e é o filho, de 16 anos, que trata de todos os assuntos. Veja o vídeo.
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Daniel e Laurinda Ribeiro, 54 e 56 anos, respetivamente, confrontam-se há 9 meses com uma situação inédita nas suas vidas: a dependência de terceiros. "Nunca tinha sido dependente de ninguém", desabafa, amargurado, o marido, na casa onde a família vive há cinco anos, no Casal da Mira, Amadora.
A história começa quando o casal ficou sem condições para continuar a gerir um café em Leça da Palmeira. "Um fornecedor que nos tinha colocado material no valor de 5000 euros, com o compromisso de lhe encomendarmos o café, quis receber essa quantia, uma vez que os novos arrendatários não chegaram a acordo e deixaram de lhe encomendar o café. Avançou para tribunal e o resultado foi a penhora do carro, o único bem que tínhamos", conta Laurinda.
O carro é um Renault Clio, de 1995, cujo valor comercial é quase nulo, mas que, por ser adaptado à deficiência de Daniel Ribeiro, era o garante da independência da família. Desde a decisão judicial, está parado à porta de casa da família, não pode circular, mas nunca ninguém das Finanças ou do tribunal apareceu sequer para levantá-lo.
Entretanto, tudo mudou para esta família que, desde 2007, vive na casa de um tio, num bairro social isolado da Amadora.
O casal contestou a decisão, mas, em maio, uma carta do Tribunal de Valongo confirmou a penhora. No despacho lê-se que o carro torna a vida de Daniel Ribeiro "mais fácil e cómoda", mas não é "indispensável à sua integridade física".
O desânimo tomou conta do casal. "Eu já não tenho pernas, mas parece que mas cortaram outra vez", desabafa ao JN Laurinda Ribeiro. "Se não tivéssemos o nosso filho, íamos ficar aqui para sempre, pois não conseguimos andar para lado nenhum", acrescentam.
O sonho de Laurinda e Daniel era agora poderem comprar um outro carro adaptado. Só que, para isso, seriam necessários uns 2500 euros, quantia "impossível" de alcançar para quem vive com 600 euros de reforma.