Única sala da Baixa tem tido sessões esgotadas. Muitos espaços estão ao abandono. Pedro Cem à venda.
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Durante décadas ao abandono, a requalificação urbana e o turismo trouxeram de novo vida à Baixa do Porto, numa altura em que os antigos cinemas já todos tinham encerrado e a Sétima Arte emigrado para os centros comerciais dos concelhos da periferia. Atualmente, apenas o Trindade resiste e, após a pandemia, volta a ter dez sessões diárias e uma oferta de filmes para todos os gostos. Mas muitas outras salas existem, apesar do seu abandono. O Pedro Cem, por exemplo, a moderna sala da década de 1980, está intacta e à venda.
Com bares e restaurantes a cumprirem regras de segurança, as ruas do Porto voltam a ganhar movimento e nas últimas semanas tanto o comércio como os locais de cultura estão a ter forte adesão do público. "Reabrimos no dia 19 de abril e a receção tem sido muito boa, um bocado em contraciclo, porque temos tido as sessões esgotadas", diz Américo Santos, fundador da Nitrato Filmes e atual responsável pelo Trindade.
Oferta era diversificada
O Trindade é neste momento o único cinema na Baixa, zona da cidade que durante décadas foi local de eleição para a instalação destas salas. Até ao início da década de 90 do século passado, estiveram em atividade dezenas de espaços, uns a funcionar em exclusivo para a Sétima Arte, outros a dividir o cartaz com o teatro. A oferta era a mais diversificada, no São João Cine (antes de ser Teatro Nacional), no Rivoli e no Batalha, que tinha também a Sala Bebé.
O mesmo acontecia no Olympia, no Águia d"Ouro, no Coliseu, no Trindade, no Teatro Carlos Alberto, no Cinema do Terço, no Cine-Foz, no Vale Formoso, no Nun"Álvares e nas modernas salas que surgiram ao longo da década de 1970: o Charlot instalado no Centro Comercial Brasília; o Passos Manuel, junto ao Coliseu; o Pedro Cem; o Lumière A e Lumière L, inaugurados em 1978 e o Estúdio Foco.
As últimas resistentes foram as duas salas do Centro Comercial Stop, inauguradas nos anos 80 e encerradas em 1995, e o primeiro multiplex construído de raiz no Porto, as cinco salas do Central Shopping (Campo de 24 de Agosto), inauguradas em 1996, quando a oferta nos grandes centros comerciais era já invencível. Restava o cinema pornográfico no Teatro de Sá da Bandeira, no Júlio Diniz (em Costa Cabral) ou no Estúdio 111, na Rua 31 de Janeiro.
Já neste século a maior parte destas salas encerradas foram transformadas em danceterias ou em discotecas.
O Vale Formoso acabou em templo da Igreja Universal do Reino de Deus e, apesar daquela instituição afirmar ter um projeto social a desenvolver ali, o edifício continua ao abandono. Operacional mas sem funcionar desde a sessão do 42.º aniversário do Brasília, em 2018, continua o Charlot.
O Pedro Cem está no mercado. "Está como no último dia em que funcionou, só tem um bocadinho de pó. Até o projetor original continua lá", conta Marta Barros, da Century 21, que tem a sala à venda por 430 mil euros.
OUTROS ESPAÇOS
Casa das Artes
Para além do Trindade, o cinema independente continua a ser exibido na Casa das Artes, na Rua Rúben A, que retomou a atividade, com as sessões às quintas e sábados, desde abril. Este espaço, criado em 1991, fica nos jardins do Palacete do Visconde de Vilar d"Allen, num edifício projetado por Souto Moura.
Cinemas Alameda
As 12 salas do circuito comercial (Cinemas NOS) existentes no Porto estão no Centro Comercial Alameda (ex-Dolce Vita), nas Antas. Durante três meses, em 2002, foram quase diárias as negociações para a Associação de Comerciantes do Porto (ACP) aceitar a construção do shopping, a Câmara aprovar o plano e o F. C. Porto desbloquear a construção do estádio que teria de acolher o jogo inaugural do Europeu de Futebol de 2004.
Regresso do Batalha
Para compensar os comerciantes da Baixa pela criação do shopping nas Antas, a ACP e Autarquia criaram o Comércio Vivo (2006), para gerir os cinco milhões de euros disponibilizados pelo grupo Amorim. A reabilitação do Cinema Batalha fazia parte deste projeto que acabou por não resultar. Em 2017, a Câmara decidiu alugar o espaço e fazer obras. O "Batalha Centro de Cinema" será devolvido dentro de meses à cidade.
Campo Alegre
No Teatro Municipal Campo Alegre há um cine-estúdio com filmes independentes e ciclos temáticos de autor.