A "Evaristo Sampaio" era a única fábrica a laborar na aldeia mais industrializada do concelho. Setor em crise por falta de encomendas
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O despedimento coletivo de 23 operárias e mais uma dezena de pessoas, entre funcionários do escritório e diretores, da fábrica têxtil Evaristo Sampaio foi comunicado verbalmente pelo administrador na passada segunda-feira nas instalações da empresa da Guarda. Anúncio que significou o fim de uma história de longevidade, já que a fábrica foi fundada nos anos 40 do século passado na aldeia de Trinta, a mais industrializada de sempre do concelho e, até por isso, a primeira a ver instalada luz elétrica. É mais uma têxtil a fechar, confirmando o mau momento do setor (ler texto ao lado).
De acordo com as trabalhadoras, o dono da fábrica, Paulo Romão, informou que tinha sido pedida a insolvência e que não havia património para lhes pagar. Em concreto, ficaram por liquidar os salários de agosto e duodécimos do subsídio de Natal, mais as indemnizações por antiguidade e os proporcionais de férias, subsídio de férias e subsídio de Natal deste ano. É tudo quanto as trabalhadoras, agora sem trabalho, vão reclamar no processo de insolvência que já entrou no Tribunal Judicial da Guarda, mas cuja sentença ainda não foi decretada. Até lá, as trabalhadoras aguardam que lhes seja dada a documentação para que possam recorrer ao subsídio de desemprego.
Já o proprietário da fábrica mantêm-se em silêncio apesar das tentativas de contacto do JN.
No dia seguinte ao anúncio de fecho da empresa, as trabalhadoras concentraram-se junto às instalações e chamaram a Guarda Nacional Republicana (GNR) para que ficasse registado que não puderam entrar para trabalhar. Ainda sem nada escrito que atestasse o fim de ciclo da empregadora, as operárias quiseram evitar que pudessem ter faltas injustificadas e pudessem despedidas por justa causa.
"Para mim foi uma total surpresa porque sempre aqui trabalhei, não conheci outro patrão e não imaginava que a fábrica pudesse fechar as portas", disse esta quarta-feira Maria de Jesus, de 58 anos. Todas com mais de 40 anos e muita incerteza quanto ao futuro, esperam encontrar novo trabalho em breve. " Parar é morrer", atirou Isabel Carriço.
A empresa Evaristo Sampaio, sediada na aldeia de Trinta, no concelho Guarda ainda sobreviveu 10 anos a um plano especial de revitalização, mas no final de agosto, os credores (na maioria bancos e Autoridade Tributária) pediram a insolvência que estava nas mãos dos netos dos fundadores.
Desemprego no têxtil aumentou 12% no último ano
A "Evaristo Sampaio", na Guarda, vai agravar os dados do desemprego no setor que, tal como o JN revelou a 28 de agosto, dispararam no último ano devido à falta de encomendas. O têxtil e o vestuário viram o desemprego subir acima dos 12% nos primeiros sete meses deste ano comparativamente com o mesmo período do ano passado (aumentou 12,5% na industria do vestuário e 12,2% na fabricação de têxteis). "As empresas tiveram uma diminuição acentuada da procura", justificou na altura Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.
Isto deve-se à conjuntura internacional que arrefeceu os mercados europeus, o que levou a que o retalho vendesse menos do que o esperado no ano passado, gerando-se "excesso de stock" que, este ano, se repercute num travão das encomendas, acrescentou. Segundo o IEFP, o desemprego cresceu mais entre as mulheres, dos 35 aos 54 anos.
O setor espera que a crise de encomendas possa inverter-se em breve. Até lá, é preciso segurar os postos de trabalho e é, por isso, que o Ministério do Trabalho, conforme noticiamos, está a negociar com o setor um programa de formações do IEFP dirigido aos trabalhadores das indústrias afetadas pela quebra de encomendas, nas quais se incluem o têxtil e vestuário.
A ideia é que o IEFP financie uma parte dos salários, desonerando as empresas que, de outra forma, teriam de recorrer ao lay-off ou despedir. As formações devem arrancar este mês e deverão durar até ao final do ano.