"Food4Clothes" é um projeto social da igreja do Foco, na zona da Boavista, criado pelo grupo de jovens da paróquia, que dá apoio a 22 famílias do Porto.
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Terça-feira, 18 horas. Começa a azáfama na Igreja Nossa Senhora da Boavista, no Porto, com o reboliço de crianças na catequese. E é disto que o projeto "Food4Clothes", que nasceu do grupo de jovens daquela paróquia, precisa. O "Food4Clothes" ganhou forma em setembro de 2021, quando a pandemia já fraquejava e as pessoas confinadas em casa desmanchavam-se de roupa e calçado e outros artigos que já não queriam. Este desembaraçar-se de tralhas de uns tornou-se na oportunidade de outros.
Os jovens, entre os 12 e os 18 anos, que fazem parte do grupo da igreja, viram no recheio caótico de roupas e de calçado, deixados na garagem da paróquia, um caminho de solidariedade. "Porque é que nós não trocamos roupa por alimentos? Ou seja, precisamos de alimentos e as pessoas vão querer comprar estas roupas que nós temos aqui, porque são roupas boas a preços muito irrisórios. Em troca de arroz, azeite, batatas, o que for. A ideia surgiu de um excesso de roupa que nós tínhamos e que de facto estávamos a ter dificuldade em escoar e de uma grande e cada vez mais crescente necessidade de famílias a precisarem de apoio alimentar", explica, ao JN, Catarina Coelho, de 51 anos, coordenadora do grupo de jovens.
Por dois alimentos ou três euros por artigo podem ser ajudadas com um cabaz de alimentos variados, entre 16 a 22 famílias. A coordenadora não consegue quantificar o stock de vestuário guardado em armazém, mas é "muito e diversificado". Na garagem, há voluntários que fazem uma triagem "entre aquilo que vale a pena ter em loja e aquilo que não vale a pena ter" em loja. "Recebemos muita roupa que já não está em condições de ser usada por ninguém", diz Catarina, clarificando que "acontece com alguma frequência pessoas carenciadas ou em situação de sem-abrigo virem aqui pedir roupa". Por outro lado, "quando começa o volume a crescer mesmo muito, damos a outras instituições, ao Coração da Cidade e à Ludoteca, que têm carência e que nos vão pedindo". Afiança: "Uma coisa é garantida, aqui nada se estraga".
Dar uma segunda vida
O "Food4Clothes" é mais do que uma simples loja social. É um exemplo de como a comunidade pode unir-se para criar soluções criativas e sustentáveis para os problemas sociais. A loja está dividida em três salas para mulher, homem e criança.
Emília Riba D"Ave, de 18 anos, está ligada à paróquia desde os seis anos. A jovem voluntária que faz parte do grupo desde 2022 refere o impacto que o projeto teve na sua vida: "Não sabia muito bem o que esperar no início, mas percebi rapidamente a importância do que estávamos a fazer. Aqui, aprendi muito sobre como a roupa circula e a necessidade de dar uma segunda vida a muitas peças que de outra forma seriam desperdiçadas."
Catarina Monteiro, de 42 anos, mãe de duas meninas, de 8 e 10 anos que frequentam a catequese, põe em prática a boa ação, semanalmente. "É um projeto que alia várias coisas. A área de contribuir com a doação de alimentos. Depois, porque que há que pensar cada vez mais na sustentabilidade e as roupas estão em condições. Também a parte educacional, que acaba por incutir esse espírito nas minhas filhas", elenca.
Sustentabilidade
A sustentabilidade é outro valor importante do projeto social "Food4Clothes". Como Emília Riba D"Ave menciona, muitas das roupas que chegam à loja estão praticamente novas e, ao serem reutilizadas, contribuem para a redução do consumo desenfreado e da poluição associada à indústria da moda. O funcionamento da loja social não seria possível sem a generosidade dos paroquianos do Foco, na zona da Boavista.