Moradores do Muro, na Trofa, alarmados com acumulação de lixo em habitação. Câmara diz que a casa será limpa em breve.
Corpo do artigo
Além do cheiro nauseabundo e da fauna - de pulgas a ratos - que infesta as casas, o que todos temem ainda mais é que haja ali um incêndio. E não faltará matéria combustível: a casa do vizinho de Lurdes, Teresa e Conceição, perto da antiga estação do Muro, na Trofa, está há anos transformada num depósito de lixo, e não há um metro quadrado que não tenha sido engolido por entulho.
São caixotes e sacos com lixo que se multiplicam no rés do chão, por toda a sala, e que trepam as escadas até aos quartos. Não há um só centímetro para passar para lado algum, e o mau cheiro faz-se notar no exterior. Há uma década que é assim, e as vizinhas já alertaram várias entidades para a situação provocada pelo inquilino acumulador. Da paróquia - proprietária da casa -, passando pela Junta, Câmara e Segurança Social, foram sendo feitas várias denúncias, mas nada se alterou. Apenas o volume de entulho foi crescendo na exata medida da preocupação dos vizinhos, que chegam a ter de pôr ratoeiras nas casas.
"É ratos, ratazanas e pulgas, é quanto há aqui. Isto está assim há anos, não tem jeito. Já cá veio a polícia, a Câmara, tudo, e ninguém toma uma atitude. Estamos sujeitos a ter aqui um incêndio", indigna-se Teresa Vilaça, que é inquilina da casa contígua, onde está a investir em obras de conservação. "Todos os dias ele traz um caixote. Já viu o perigo que a gente tem se há um incêndio? Nós queríamos isto limpo, mais nada", reclama a moradora.
"Isto já se arrasta há 10 anos. Se alguém põe aqui uma ponta de cigarro, vai tudo", estremece Conceição Brito, que até colocou "ratoeiras em casa". A irmã, Lurdes, mora por cima do acumulador de lixo e descreve um cenário impossível: "lá em cima, com o cheiro, uma pessoa nem respira bem. E quando ele está cá, é um fedor a álcool em minha casa que nem lhe digo".
Teto em risco
Ao JN, a Câmara da Trofa disse conhecer a situação, tendo feito "diligências" no local. Esclareceu, no entanto, que "o edifício é propriedade da Comissão Fabriqueira da Freguesia do Muro", sendo o inquilino um indivíduo que "vive sozinho" e "sofre de disposofobia", um distúrbio comportamental que se traduz na acumulação compulsiva de objetos sem utilidade, designadamente lixo.
No início de junho, chegou à Câmara um "pedido de ajuda urgente por parte da Junta de Freguesia", dando conta de que "parte do teto da casa estava em risco de ceder", pelo que o inquilino "não poderia voltar" a habitá-la. Foi feita uma visita ao local por elementos da Ação Social e da Polícia Municipal - além do presidente da Junta e de um representante da paróquia.
A Câmara esclareceu ainda que "a Junta solicitou o apoio da Trofáguas para assegurar a retirada do lixo, sendo que o mesmo será retirado por elementos da Comissão Fabriqueira".
Auxílio
Morador recusa auxílio
Com um distúrbio que o leva a acumular lixo compulsivamente, o morador tem recusado auxílio de várias entidades. Em junho, aquando da visita dos técnicos do Município ao local, "os serviços da Ação Social da Câmara entraram em contacto com a Segurança Social para se conseguir vaga em CAES - Centro de Acolhimento de Emergência Social", a qual "foi assegurada no dia seguinte, num CAES de Vila Nova de Gaia". Contudo, o indivíduo "recusou perentoriamente ser integrado, tendo assinado uma declaração que corrobora essa decisão. Ou seja, recusou qualquer apoio, tendo uma postura não colaborante".