Receita foi gerada pela passagem de quase de 19,5 milhões de veículos. Registaram-se sete acidentes, com um ferido grave e nove ligeiros.
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"Quase 19,5 milhões de veículos" passaram pelo túnel do Marão desde a abertura ao tráfego, em 8 de maio de 2016. Os utilizadores pagaram, em portagens e até ao final do passado mês de março, um montante que "supera os 43 milhões de euros". Dos sete acidentes registados, uma pessoa ficou ferida com gravidade. Apesar disso, os bombeiros das equipas de socorro que estão lá em permanência continuam a reivindicar mais formação específica.
Os números de balanço, a poucos dias de o túnel completar cinco anos de atividade, foram adiantados ao JN por fonte oficial da Infraestruturas de Portugal (IP). É a entidade pública que gere a travessia subterrânea da serra do Marão, que ao longo de quase seis quilómetros liga os concelhos de Amarante e Vila Real.
Até hoje, de acordo com a IP, foram registados "sete acidentes", com "nove feridos ligeiros e um ferido grave". Este último era o condutor de um motociclo que se despistou. Entre os vários incidentes ocorridos dentro do túnel do Marão, a maior parte provocados por sobreaquecimento dos veículos, a IP destaca um incêndio num autocarro ocorrido em junho de 2017. Em agosto do mesmo ano, um veículo ligeiro de passageiros também se incendiou. Em ambas as situações "ninguém ficou ferido".
Pouco conforto
Foi o incêndio no autocarro que espoletou a instalação de equipas de bombeiros em permanência, oriundas das corporações da Cruz Branca de Vila Real e de Amarante. No entanto, estão a utilizar instalações do centro de controlo, à saída da galeria norte, que, de acordo com Orlando Matos, comandante vila-realense, "não são adequadas ao aquartelamento de elementos operacionais, nomeadamente em termos de conforto", para além de que "têm de levar para lá as refeições e depois aquecê-las um micro-ondas".
O comandante admite que "é o possível", tendo em conta que "o edifício não foi projetado para esse efeito", ao contrário daquele que estaria previsto no projeto inicial para a entrada da galeria norte. O edifício que ali existe agora "apenas alberga geradores".
Tal como há cinco anos, Orlando Matos mantém que seria necessário dispor de "um veículo adequado especificamente para o socorro dentro de um túnel". A Cruz Branca acabou por adaptar um dos carros de combate a incêndios para aquelas funções. Outra reivindicação antiga é a formação dos bombeiros que trabalham no túnel. "Formação em contexto real, em Espanha, para poderem estar preparados para o pior cenário".
Pormenores
Incêndios em veículos
São frequentes, mas "rapidamente são controlados e extintos" pelas equipas de primeira intervenção que se encontram à entrada de cada uma das galerias e da equipa permanente de proteção e socorro dos bombeiros da Cruz Branca de Vila Real e de Amarante.
Trânsito interrompido
Em cinco anos, a circulação no túnel esteve encerrada ou condicionada 17 vezes. A galeria sul (Porto-Vila Real) esteve uma semana sem tráfego para reparação dos danos provocados pelo incêndio num autocarro e recolocação de equipamentos destruídos.
Tráfego
12208 automóveis
Maior média diária anual desde a abertura do túnel, atingida no ano de 2019. Devido à pandemia, caiu para 9590, em 2020.
Reportagem
Viagem entre Porto e Vila Real deixou de ser um inferno
Patrícia Oliveira vive no Porto e trabalha há sete anos como responsável dos recursos humanos e da comunicação na Continental Advanced Antenna Portugal, em Vila Real. Todos os dias úteis viaja entre as duas cidades. Até à abertura do túnel do Marão utilizava o IP4, mas depois só o fez por um par de vezes para "apreciar a paisagem".
"A previsibilidade de tempo de viagem e a segurança" que o túnel proporciona não deixam margem para dúvidas, mesmo que tenha de pagar portagem. Lembra-se de ter demorado "três horas a chegar ao Porto, porque o IP4 estava fechado". Circular no inverno naquela estrada "era muito complicado", para além de ser "muito perigosa". Em tempos foi mesmo considerada a estrada da morte. Até haver túnel, 136 pessoas perderam lá a vida.
Atualmente, a viagem de Patrícia Oliveira costuma demorar 50 minutos, sempre previsíveis e sem sustos. Esta comodidade também tem tido impacto no poder de atração de novos colaboradores para a empresa. "As pessoas percebem que este é também o tempo que demoram, com trânsito, a chegar do Porto à Maia, a Espinho ou a Oliveira de Azeméis".
Virgínia Castro não viaja todos os dias em carro pessoal entre Esmoriz e Vila Real. Normalmente, apanha o autocarro que a Continental ajuda a pagar para transportar o pessoal que reside no Porto. Ainda assim, lembra-se bem das vezes em que o veículo "ficava preso na neve, no IP4, e era preciso esperar que passasse o limpa-neves". Mas mesmo em dias de bom tempo "bastava apanhar um camião para a viagem ser muito mais demorada".
A rapidez e a segurança também pesaram na decisão de Saul Campanário, residente em Felgueiras, quando, há quatro anos, deixou de trabalhar em Braga e passou a fazê-lo em Vila Real. Quando anunciou a decisão de se mudar para a "Bila" houve quem o assustasse com frases como "nunca mais lá chegas", como se a cidade "estivesse no fim do Mundo". "A verdade é que não está, pois consigo fazer mais rápido a viagem Felgueiras-Vila Real do que a Felgueiras-Braga".