Durante os meses em que o setor esteve parado, muitos profissionais foram obrigados a procurar outras formas de sobreviver. Os que resistiram tentam recuperar das perdas.
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A esperança de recuperar o ritmo de trabalho pré-pandémico chega a conta-gotas ao setor dos tuk-tuk. Mas existe e é todos os dias consolidada com a chegada de turistas. Faltam os brasileiros e os americanos, mas espanhóis, italianos e portugueses vão animando o negócio que restou das perdas dos últimos meses.
"Houve quebras de 100%, o que levou a despedimentos e insolvências, como em todas as atividades ligadas à área do turismo, cultura e restauração", explica Inês Henriques, secretária-geral da Associação Nacional de Condutores de Animação Turística e Animadores Turísticos (ANCAT).
Foi criado um banco alimentar de emergência pela ANCAT para ajudar animadores turísticos que passaram por graves carências económicas durante os confinamentos. Grande parte das pessoas que fazem andar os tuk-tuks, desde 2016, são trabalhadores independentes, empresários em nome individual, sócios-gerentes ou micro empresas. "Não havendo forma de subsistência e escassos apoios, não tiveram outra opção senão procurar outras atividades profissionais para poderem subsistir e sobreviver", precisa Inês Rodrigues.
Há poucos dados sobre o setor que tem a rolar tuk-tuks em cidades como o Porto, Tomar, Sesimbra, Nazaré, Lisboa, Sintra, Pedrógão, Évora, Portimão e também em algumas cidades transmontanas. "É impossível e impreciso dar um número exato e até aproximado, pois a licença emitida pelo Turismo Portugal (RNAAT) é a nível nacional e não regional, não existindo um limite de viaturas por cada licença", refere a secretária-geral da ANCAT.
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"Não há para todos"
Os que sobreviveram à crise agarram-se à esperança trazida na bagagem dos turistas para tentar recuperar parte das perdas.
Diogo Líbano, da City Tuk, uma das maiores empresas em Lisboa, chegou a ter 30 viaturas por dia na rua antes da pandemia de covid-19. Agora, só tem cinco. "Há tão poucos turistas que se torna mais difícil. É um mercado que não é regulado por ausência de lei, acaba por ir ao sabor da oferta e da procura. Alguns conseguem subsistir, mas não há para todos", lamenta.
Eduardo Vieira, da Tuk on Me, sente o mesmo. "Tínhamos 30 tuk-tuks em Sintra e em Lisboa, e agora temos três ou quatro em cada uma destas cidades, estamos a trabalhar a 20%. Não temos nem pessoas nem turistas". O empresário alerta que "os tuque-tuques parados têm custos e requerem uma manutenção semanal", o que traz ainda mais prejuízos.
"Migalhas é pão e é melhor do que nada"
Florbela Silva tem uma loja de "souvenirs" junto à Torre dos Clérigos, no Porto. Há ano e meio que tudo faz para manter a funcionária, que tem o marido também a trabalhar no setor do turismo. "Não estamos a trabalhar muito, muito, mas o que temos tido dá-nos esperança para continuar", diz. "Migalhas é pão e é melhor do que nada... É ótimo", sublinha, cristalizando o otimismo. A loja, que só vende produtos nacionais, não recebe ainda os endinheirados turistas que chegam da Alemanha, do Brasil e dos EUA. "Mas está um bocadinho melhor", avalia Florbela Silva, que aguarda com expectativa a chegada ao porto de Leixões de navios de cruzeiro em setembro e outubro.