São sobretudo espanhóis, como é habitual no fim de semana da Páscoa, os turistas que enchem a cidade do Porto. Mas, apesar de as ruas estarem cheias e de os hotéis quase lotados (com taxas de ocupação de 90%), o comércio tradicional diz nada ter ganho. "Andam todos de mãos a abanar", apontam os lojistas.
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José e Paula Ruiz já não passavam a Páscoa no Porto desde que nasceram os seus filhos, Manuel e Matilde, de seis anos. Mas até então, era habitual, como tantos espanhóis, que estão sempre em maioria nestes dias. "Somos das Astúrias. São só quatro horas de viagem de carro", justifica José.
O casal que, no ano passado esteve em Granada, chegou quinta-feira ao Porto, com um misto de alegria e desilusão. "Está a ficar igual a qualquer outra cidade. Não digo em relação ao tipo de edifícios. Isso é óbvio que são típicos da região. Digo em relação ao comércio, por exemplo. Não há nada local. Estar nesta rua (Santa Catarina) ou numa outra qualquer de Espanha é a mesma coisa. As lojas são as mesmas", explica.
Yoan e Anastacia Yagsento estiveram de férias na Madeira e decidiram passar uns dias no Porto ao regressarem a casa, nos Países Baixos. "Está tudo um bocadinho velho. No nosso país também há muitos prédios antigos mas está tudo bem mantido. Aqui não", destaca o casal.
As famílias Ruiz e Yagsento são apenas duas de centenas que, esta sexta-feira, deixaram a Rua de Santa Catarina quase a abarrotar mal se viram os primeiros raios de sol depois de um início de manhã com fortes chuvadas. Mas nem por isso as lojas estão cheias.
"Está muita gente, é verdade. A rua está cheia, mas olhe para as mãos, não há sacos", lamenta Maria Augusta, proprietária há 30 anos da Portiny, uma loja de carteira e marroquinaria que, até à hora do almoço, não tinha conseguido vender um único artigo.
Para aquela comerciante, a culpa reside no tipo de turista que a cidade atrai. "São todos de pés descalços. Só andam a passear e nem nos restaurantes entram, compram comida nos supermercados", diz Maria Augusta, lamentando que nem a invasão de espanhóis lhe seja favorável: "Nunca foram bons clientes. Os americanos sim. Quando vierem em maio, as coisas melhoram".
Se os turistas da época da Páscoa não são de ajuda para o comércio local o mesmo já não se pode dizer em relação ao artesanato. Na feira da praça da Batalha, os principais clientes são estrangeiros.
"Estou a vender bem ou até um pouco mais do que no ano passado, por causa dos turistas, sobretudo os americanos", aponta Liliana Silva que transformou o desemprego para que foi atirada durante a pandemia, após 21 anos a trabalhar numa conhecida loja de brinquedos, numa oportunidade de criar, há cinco anos, a "Pano Cru".