Turistas brasileiros participaram numa atividade que ainda é privilegiada no Douro, nomeadamente pelos produtores de vinho do Porto.
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A brasileira Rosângela Ibañez até poderia ter imaginado celebrar 62 anos de vida com um copo de vinho do Porto na mão. Mas não com os pés mergulhados no mosto, dentro de um lagar tradicional de pedra. Aconteceu em Cabeda, Alijó, onde ouviu os "parabéns a você" de familiares e amigos que a acompanharam na atividade turística, com coro no lagar ao lado, onde trabalhadores da empresa Costa Boal Family Estates marchavam sobre outras uvas.
Luís Carcau, Bruno Borges, Luís Rosa, Eurico Gonçalves e João Freitas já iam com três horas de "um, dois, esquerdo, direito" quando o grupo de Rosângela chegou. Os turistas, brasileiros de Santa Catarina, passaram a tarde a bordo de um barco no rio Douro a encher os olhos com a paisagem vinhateira que é Património Mundial há 20 anos. Para o fim da tarde reservaram uma experiência nova. "Nossa! Foi bom demais pisar uvas dentro de um lagar!" exclamou a aniversariante, que já conhecia Braga, mas nunca tinha tido o "privilégio" de ir ao Douro. "Foi lindo, maravilhoso, amei!" O mais irrequieto foi o menino Martim, o que mais piada achou a ter as pernas pintadas de tinto. Os graúdos deram mais solenidade ao modo de fazer vinho que sempre se empregou antes de aparecerem as máquinas. "Achei que isto já nem existia. É uma experiência muito legal e gostosa", confessou Jorge Poli.
"Nesta adega, criada em 1857, continuamos a fazer lagaradas tradicionais para o vinho do Porto, bem como para alguns vinhos de topo da nossa empresa. Com este método tradicional, conseguimos tirar mais cor e taninos mais presentes, o que nos vai permitir, no futuro, ter vinhos com maior longevidade"
Usual
Na verdade, a pisa de uvas com os pés continua a ser usual na Região Demarcada do Douro. Em primeiro lugar, pelo agricultor que produz a pinga para consumo caseiro. Em segundo, pelas quintas que entendem que este método ainda é o mais adequado para gerar alguns tipos de vinho, como o do Porto. E em terceiro, como atividade para turista ver, participar e pagar para fazer parte dela.
Felizes e descontraídos, decidiram então cantar os parabéns a Rosângela dentro do lagar. Não tendo sido premeditado também não houve bolo nem velas para soprar, muito menos espumante em flutes para brindar. Só que estando numa adega, o proprietário, António Boal, não quis deixar o momento morrer à sede e deu-lhe solenidade com uma garrafa de um porto vintage vertido para copos de vinho à seria, distribuídos por turistas e trabalhadores.
Os primeiros ficaram prontos para continuar a usufruir do melhor que a região oferece em tempo de vindimas. Os segundos, despachados por mais um dia e a precisar de carregar baterias para no seguinte voltarem a cortar, carregar e transportar uvas para a adega.