Desconhecidos partem telhas, arrancam porta e destroem contador elétrico. Ataques acontecem desde que o imóvel foi vendido.
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Telhado esburacado após furto de telhas, porta rebentada, e por uma vez selada por fora durante a noite, impedindo a saída do edifício, e quadro de eletricidade partido. São estes episódios que, nos últimos dois meses, têm aterrorizado a vida de Agostinho P., um reformado, de 73 anos, que é o último ocupante de um prédio, numa perpendicular à Avenida da Liberdade, em plena zona premium de Lisboa.
O homem vive num primeiro andar arrendado há mais de 40 anos. Apesar da pressão imobiliária, até há dois meses, nunca havia tido problemas com os anteriores proprietários, uma empresa portuguesa, com sede na capital. O pior aconteceu porém em agosto, quando Agostinho viu o seu telhado arrancado por desconhecidos. Com receio de infiltrações, foi ele próprio comprar telhas. Mal imaginava o que sucederia. "O meu pai deixou o material na entrada e foi arrumar o carro. Minutos depois, viu que alguém tinha entrado e partido tudo", conta a filha, sob anonimato, ao JN.
Desde agosto estes episódios começaram a ser mais frequentes. "Um dia, ia a sair de manhã e não consegui abrir a porta, tive de chamar a Polícia e a Proteção Civil", descreve o inquilino. O ataque terá sido testemunhado por um vizinho, que, por segurança, pediu para não ser identificado.
queixas na polícia
Na quinta-feira, a violência subiu de tom quando a porta de entrada do prédio foi arrancada e o contador da luz danificado, de modo a deixar a habitação sem luz. Foi a Junta de Freguesia de Santo António que tratou de arranjar uma porta, de forma a que o idoso não ficasse a dormir de entrada franqueada.
A filha conta que logo que estes ataques começaram, além de apresentar as respetivas queixas contra desconhecidos na Polícia, pediu uma certidão predial, que confirmou que o imóvel foi vendido em março, à Erudite Quotidian, uma empresa portuguesa, detida por três sócios sul-africanos, que teriam um representante em Portugal. Ontem, o JN entrou em contacto com este, que disse "já nada ter a ver com o prédio". Adiantou que é apenas agente imobiliário e que já terá vendido o imóvel, mas recusou-se a revelar o nome do comprador.
"Vamos pedir uma vistoria de urgência à Câmara de Lisboa, para avaliar os efeitos dos estragos no prédio. Estes ataques são indignos e inadmissíveis. Não vivemos na Idade Média"
Agostinho e a filha não foram informados da nova venda do prédio, mas mostram os documentos do contrato de arrendamento e lembram que, legalmente, teriam de ter sido contactados, uma vez que beneficiariam inclusive do direito de preferência, como inquilinos.
Sem apontarem o dedo a ninguém, uma vez que todos os atos têm sido praticados por desconhecidos, Agostinho e a filha querem apenas que se acabe com este clima de violência e confiam nas diligências policiais em curso.