Dá nas vistas por onde passa, a pedalar, num triciclo adaptado que transformou em casa. Martin Hutchinson, 56 anos, nasceu no País de Gales. Era carpinteiro antes de se transformar num "explorador ambiental". Quer "menos falatório e mais ação".
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Há 11 anos, foi dar uma volta ao mundo. Demorou nove anos. Saiu de Inglaterra e percorreu 21 países, a maior parte na América Central e América do Sul, num triciclo especial. Quando por fim regressou a casa, só lá ficou 22 dias.
Voltou à estrada para uma segunda expedição. De novo, sozinho. "Talvez precise de seis, sete ou oito anos. Tenho tempo". Afastou-se das organizações ambientais "por causa dos egos" dos seus dirigentes, mas por onde passa leva a mensagem. "A minha luta é sobretudo contra o plástico. Vejo tanto lixo. Filmo-o. Denuncio. Há dias, apanhei 150 garrafas de plástico, em poucos metros!". Foi em frente a uma escola, na zona de Mira. Mas exemplos não lhe faltam. "Houve um domingo em que estive durante quatro horas a apanhar garrafas, numa distância de um quilómetro, junto a um pinhal. Recolhi 431".
Nas redes sociais partilha os vídeos, muitos gravados em Portugal, onde está desde fevereiro, nos quais mostra as bermas das estradas cheias de embalagens. Os despojos de uma sociedade que "produz em excesso". Em oito meses a pedalar pelas estradas nacionais, num veículo que lhe deixa o olhar próximo do chão, viu dezenas de atos que considera "criminosos". Faz questão de salientar que o desperdício de lixo, sobretudo de plástico, não é uma questão portuguesa: "Acontece em todo o lado", salienta, em declarações ao JN, de passagem pelo Porto.
Exploradores ambientais
Viaja com um cão que foi resgatado e que adotou em Aljezur, quando passava pelo Algarve. "Starsky", um labrador preto, senta-se no seu colo nas descidas. Vestiu-lhe um colete cor de laranja e diz que juntos formam a equipa dos "Exploradores ambientais do século XXI".
É o "planeta incrível" que o faz continuar. "O que mais me chocou aqui foi a quantidade de beatas que há nas ruas. Cada uma pode contaminar cinco litros de água". Acrescenta à crítica o exemplo da Índia. "Eles estão há 15 anos a construir estradas com plástico reciclado".
Quer percorrer toda a Europa e passar pelo Médio Oriente antes de chegar ao destino, a Austrália. "Se calhar sou sentimentalista. Tive uma boa vida. Já visitei lugares incríveis, que vejo que estamos a destruir. Mas enquanto a saúde permitir, vou continuar. Vocês aqui, por exemplo, tiveram incêndios e uma das razões é porque o clima está a aquecer. Temos que parar de culpar tudo e todos e agir. As pessoas não veem a beleza do nosso planeta. É preciso mostrar-lhes".