Nem um esclarecimento, nenhuma resposta, nenhum conselho às populações, nem uma palavra às famílias. Domingo faz um mês que Joaquim Ferreira foi internado. Morreu sete dias depois.
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Na quinta-feira faleceu mais um atingido. Foi a primeira de 87 vítimas do surto de legionela que atingiu os concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim. À filha, Raquel, o que sobra em perguntas, falta em respostas: Porquê ele? Onde foi contaminado? Porque falharam as inspeções às "malditas torres"? Saúde, Ambiente e Longa Vida continuam em silêncio. A Administração Regional de Saúde do Norte (ARS/Norte) não presta qualquer esclarecimento.
No dia 20, a Longa Vida anunciava que a análise às suas torres deu positivo para a Legionella pneumophila, mas garantia que não era, ainda, possível estabelecer "uma correlação entre a presença desta bactéria nas torres de refrigeração e a origem do surto". Uma semana depois, não esclarece se as torres continuam desligadas, se procedeu à desinfeção e se o foco de contaminação foi sanado. Quem mora perto mostra-se receoso.
Contactada pelo JN, a ARS/Norte nada diz. Nem sobre a causa-efeito, nem sequer confirma a análise positiva às torres da Longa Vida. Também não diz se continua a fazer inspeções a indústrias e espaços comerciais da zona ou se acredita ter encontrado o foco. Durante um mês, nem uma recomendação à população sobre formas de se proteger.
Câmara sem resposta
Matosinhos também queria respostas. No dia 19, Luísa Salgueiros pediu esclarecimentos à ARS/Norte e às duas empresas, cujas torres foram preventivamente desligadas - Longa Vida e Ramirez. Quer que a Autoridade de Saúde diga que cuidados devem as pessoas ter e de que forma podem minimizar o risco. Às empresas pediu os últimos relatórios da manutenção das torres e quer saber, face ao resultado positivo preliminar, que medidas tomaram. Continua à espera de respostas.
O Ministério do Ambiente remete esclarecimentos para a Saúde. Não explica se inspecionou a empresa, se lhe aplicou sanções por incumprimento dos protocolos de limpeza/manutenção das torres, se agiu perante o crime ambiental.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) explica que o processo está "em segredo de justiça", mas garante que está a fazer "todas as diligências necessárias".
Há quatro dias sem novos casos
Entretanto, encerradas as torres no dia 10 (Longa Vida) e 11 (Ramirez), a ARS/Norte esperava que deixassem de surgir novos casos a partir do dia 22. As previsões parecem ter batido certo. Desde o fim de semana que não há novos doentes. Ontem, morreu um dos pacientes internados no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. Ainda há 11 pessoas internadas.
À margem
Duas análises positivas
Numa primeira análise, foi testada a presença de material genético da bactéria legionela. Face aos positivos, Longa Vida e Ramirez foram obrigadas a parar as torres de refrigeração. Só pela análise "mais fina", em cultura, foi possível aferir se a bactéria estava viva e se era da espécie responsável pela doença dos legionários. No caso da Ramirez, deu negativo. Na Longa Vida, positivo.
Comparação de estirpes
A ARS/Norte ainda aguarda os resultados das análises comparativas que estão a ser realizadas no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. A ideia é perceber se a estirpe da bactéria das torres de refrigeração da Longa Vida coincide com a encontrada nas secreções dos doentes.
Em novembro de 2014, em Vila Franca de Xira, foi identificado um surto de legionela que viria a revelar-se o maior do país até à data e um dos maiores do Mundo. Infetou 375 pessoas e causou 12 mortos. O processo ainda segue nos tribunais.
Vítimas
87 pessoas infetadas
Desde 29 de outubro, 87 pessoas foram diagnosticadas com doença dos legionários. 48 no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, 29 no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde e dez no Hospital de S. João, no Porto.
10 doentes morreram
Uma dezena de pessoas morreu. Residiam nos concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim. A legionela é responsável pela doença dos legionários, uma forma de pneumonia grave que, nalguns casos, pode levar à morte ou a lesões pulmonares permanentes.