Passeios da principal artéria de Aveiro serão em calçada portuguesa. Mão de obra especializada escasseia.
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Vão ser precisas quase um milhão e meio de pedras para fazer os passeios em calçada portuguesa na Avenida Lourenço Peixinho, na cidade de Aveiro. E muita mestria da equipa de calceteiros, dirigida por Aníbal Monteiro, para garantir a qualidade da arte que ficará debaixo dos pés daqueles que calcorrearem a obra, a ser executada por fases e com conclusão apontada para fevereiro do próximo ano.
As contas são do diretor de obra, João Paulo Silva, tendo em conta a superfície de 7252 metros quadrados de passeios (quatro metros de largura por cerca de 900 metros de comprimento, desde a ponte-praça até ao início do túnel, junto à estação da CP, dos dois lados da via) que é preciso revestir.
Os desenhos, cavalos-marinhos, estrelas e outros motivos marinhos serão dispostos com cor de fundo alternada e assegurando que os dois lados da avenida ficam simétricos. Para concretizar o projeto foram criados moldes de madeira, que são colocados no chão e contornados com a pedra branca ou preta, conforme a cor que se deseja para o fundo. Depois, é retirado e feito o enchimento com pedra de outra cor.
Mas para fazer os desenhos é preciso saber partir as pedras, tendo em conta a "veia de cada uma". Ou seja, saber onde e como bater na pedra para que, ao partir, fique com o formato necessário à construção do desenho. A explicação é agora de Aníbal Monteiro, calceteiro de Ovar que, aos 57 anos, acumula mais de quatro décadas de experiência.
"em vias de extinção"
"É preciso gostar muito e ter paciência. É um trabalho difícil. Estamos de joelhos, expostos ao tempo", conta Aníbal. Foi ele quem passou o saber à equipa que trabalha ao seu lado e lamenta que seja cada vez mais complicado arranjar quem queira aquele ofício. "Hoje dificilmente aparecem pessoas para aprender. Precisava de mais calceteiros e não consigo", sublinha Aníbal Monteiro.
"É uma mão de obra em vias de extinção, há uma escassez extrema de calceteiros", corrobora João Paulo Silva, que há anos subcontrata a empresa de Aníbal pela garantia de "qualidade". "Pousar a pedra qualquer um faz. Mas isto é arte. Pode demorar um pouco mais e temos de pagar mais caro, mas fica bem feito", explica.
A Câmara decidiu manter a traça tradicional, pese embora o custo da calçada portuguesa seja "cinco ou seis vezes superior ao custo da lajeta de granito que fica ao lado, na zona onde estão os postes e as árvores". Isto para manter "a matriz da tradição" na zona central da cidade, justifica o presidente da Câmara, Ribau Esteves. A calçada à portuguesa "já tem muito de artístico", mas "neste caso específico, com os motivos marinhos, a cadência entre os fundos e a simetria entre os dois lados da avenida, estamos a construir uma obra de arte", finaliza o autarca.