Empresário José Pereira reúne mais de mil exemplares de motas clássicas que vão fazer parte da coleção que será exposta em Vizela. A mais antiga é de 1901.
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Na guerra da independência argelina de meados do século passado, para subirem os montes da Argélia de forma mais rápida, as tropas paraquedistas francesas recorreram às Vespas 150 TAP. Uma delas, com o respetivo canhão, integra hoje a gigante coleção de motas antigas e clássicas de José Pereira, a maior de Portugal reunida por um particular.
O empresário do calçado de Barrosas, Felgueiras, tem um autêntico santuário dedicado às motas antigas e clássicas, com dezenas de marcas e, seguramente, mais de mil exemplares. "Não sei ao certo quantas tenho, só penduradas são 400. São mais de mil de certeza", admite, enquanto levanta o olhar para o pavilhão de 2500 metros quadrados onde as tem expostas.
A localização exata das motas é secreta por motivos de segurança e poucos até hoje tiveram acesso àquele paraíso motard recheado de história de vários países, incluindo Portugal. Está ali a primeira vespa que veio para Portugal, em 1949, a coleção inteira da Famel, motas de guerra, de Polícia, de várias cores, feitios, tamanhos e cilindradas.
Em breve, algumas vão ser expostas no museu da mota de Vizela, que vai ser criado no edifício do Castelo da Ponte que será requalificado pela Câmara vizelense. "No fundo é uma parceria. Eu tenho mais de 100 motas para meter aqui dentro e não tenho onde as meter, se me aparece alguém que me diz que tem um espaço para elas, eu tenho gosto nisso", refere o colecionador, que sabe de cor a história de cada uma.
"Perguntam-me muitas vezes qual a favorita, mas são todas, é como escolher entre um filho e outro", explica. A paixão pelas motas já remonta aos tempos da juventude, mas nessa época ainda estava longe de imaginar que ia conseguir reunir tantas e tão valiosas. A primeira clássica que adquiriu foi uma BSA, mota britânica cujo modelo deixou de ser fabricado em 1956. "Isto é uma C11 que comprei em Valadares", recorda José Pereira, enquanto passa pela secção da coleção de motas portuguesas dos anos 50 e 60.
A mais antiga de todas está no primeiro andar. Foi fabricada de forma experimental pela Griffon em 1901 e está cuidadosamente conservada entre o espólio do empresário. "Isto é das primeiras motas que aparecem no Mundo. Tem motor Clément, que são os primeiros motores que se fazem", descreve.
Para além da inacreditável coleção de motas clássicas que detém, José conhece a história e as estórias que estão por trás de cada uma. São, para ele, como peças de arte que não altera e mesmo quando as restaura faz questão de as manter o mais fiel possível no estado em que as comprou: "Eu gosto de arte, sobretudo de Portugal, é um dever que nós temos de gostar do nosso país".
Outras relíquias
Jukebox funcionais
As jukebox caíram em desuso, mas são autênticas relíquias e José Pereira tem uma coleção delas, muitas americanas, todas funcionais. A mais antiga é o primeiro modelo da Rock-ola, uma espécie de Ferrari das Jukebox.
Barbearia antiga
No primeiro andar do pavilhão há ainda uma barbearia antiga, onde tudo é clássico, inclusive os utensílios. Entrar ali é uma espécie de viagem aos anos 50.
Latas a 500 euros
Entre o vasto espólio de motas, é impossível não reparar em várias latas de óleo, como as da Castrol ou Mobil, que José também coleciona. Tem de diferentes origens e marcas, algumas a custar 500 euros.