"É o tapete das duas vidas", diz, sorrindo, Cátia Ferreira, ela que, desde 2007, dirige, com o marido, a Tapetes de Beiriz. Ali, na pequena freguesia da Póvoa de Varzim, em teares manuais, entre pequenos fios de lãs, "em família", há mãos que repetem, todos os dias, um nó que passou de geração em geração.
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Em palácios, teatros ou casas particulares, do Brasil à Holanda, da Angola ao Dubai, o Beiriz é "único" e está "espalhado pelo Mundo". Agora, a comemorar 100 anos, a fábrica poveira acabou uma encomenda especial: uma réplica do tapete de 1922, que decora a sala onde o Governo toma posse, no Palácio de Belém. Será entregue pela Câmara da Póvoa depois de amanhã.
"É um orgulho!", diz Ana Nunes, olhando o seu "gato", a "assinatura" que só ela sabe lá estar. Ana foi uma das sete tapeteiras que, durante um mês e meio, trabalharam no exemplar de 4,55 x 7,5 metros que vai rumar a Lisboa para ser oferecido ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
"Ambiente maravilhoso"
Na fábrica, todos os dias, "semissentada", partilha o tear com três a cinco mulheres. "Conversamos, cantamos e também damos abracinhos. É um ambiente maravilhoso", explica a "caçula", que chegou há pouco mais de um ano mas já percebeu que, mais do que uma fábrica, a Tapetes de Beiriz "é uma família".
Durabilidade, qualidade e conforto, num produto exclusivo, feito "à medida e ao gosto" de cada cliente. São estes os "segredos" do Beiriz, diz quem o produz. O tapete é 100% lã. O "nó de Beiriz" é um ponto único, com marca registada. O trabalho, linha a linha, é em tudo semelhante ao bordado em ponto de cruz. Um metro demora, em média, 25 horas a sair, num trabalho de paciência, que pode custar 450 euros/m2.
Célia Ferreira entrou na fábrica com 13 anos. A avó trabalhou na velhinha Beiriz, que haveria de fechar em 1974. Célia fez parte do grupo que reabriu a unidade com a mãe de Cátia, a alemã Heidemarie Hannemann Hill, que, apaixonada pelo tapete, recuperou desenhos, teares e tapeteiras e reabriu a fábrica em 1989. Cátia sente, hoje, o peso da responsabilidade. "São uns sapatos muito grandes!"
Ampliar instalações
Mas a verdade é que a fábrica, com 21 trabalhadores, sobreviveu à crise e está, hoje, de novo "em alta" e a ampliar instalações. Numa sala estão as "fofinhas" do paciente Beiriz, noutra as "guerreiras" do trabalho duro do tufado manual, onde está Clementina, "a primeira mulher a fazer tapetes à pistola em Portugal".
"É uma outra forma de produzir tapetes, com uma produção muito mais rápida, ou seja, permite um preço mais acessível e que faz com que a fábrica tenha uma produção maior. No fundo, sustenta o Beiriz, que é, de longe, a nossa identidade", explica Cátia, que acaba de chegar de Bruxelas, onde foi instalar 250m2 de tapete no edifício da embaixada da Austrália. Também ela fez o Beiriz de Marcelo e senta-se orgulhosa ao tear "sempre que é preciso" e esse é o maior segredo do Beiriz: sempre feito em família com amor.
Apontamentos
Tapete de 1922
O primeiro Beiriz da sala dos embaixadores foi oferecido ao Palácio de Belém em 1922 pela Embaixada do Brasil. O segundo, uma réplica, foi feito há cerca de 15 anos. Agora, e porque a sala - palco de muitas cerimónias oficiais, entre as quais a tomada de posse do Governo - tem muito movimento, já não tinha a dignidade desejada.
Pelo Mundo
A escadaria do Tribunal Internacional de Haia (Holanda), as câmaras do Porto ou de Lisboa, os teatros de S. Carlos e S. João, o Banco de Angola, o Consulado Português do Rio de Janeiro ou a casa do governador do Dubai - há um Beiriz em cada canto do mundo.
Exposição
No Museu Municipal está, agora, a exposição "Fábrica dos Tapetes de Beiriz: 1919-2019", que conta a história de resiliência da unidade fabril, que nasceu pela mão de Hilda Brandão, chegou a ter 350 mulheres, fechou, renasceu com Heidemarie e está, hoje, em expansão.
Detalhes
70 anos depois, ainda há tapetes que resistem
Há tapetes de Beiriz com 70 anos a serem restaurados na fábrica. A durabilidade é um dos maiores trunfos. Nos desenhos, o clássico mistura-se com traços modernos mais arrojados. O cliente decide.
Sete pequenos "gatos" assinam tapete
No tapete para Marcelo há sete "gatos". Uma troca de linha propositada, feita por cada tapeteira que trabalhou na confeção. A "assinatura" vai passar a acompanhar todos os Beiriz