A vida da família de Casimiro Gomes confunde-se com a região que produz mais de metade do vinho que faz a festa.
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A aposta na terra quando era vista como o reduto dos pobres. O orgulho e defesa das raízes familiares. O esforço e ambição de fazer mais. A aposta na certificação para dar mais valor ao produto e a procura de mercados externos. Uma incursão no enoturismo. A história de Casimiro Gomes, que lidera os destinos da adega da sua família, tem disto tudo e confunde-se, por isso, com a da Bairrada, retratando uma região que produz metade do espumante nacional e que nesta altura celebra 30 anos de Denominação de Origem e 130 de espumante.
Do avô, nascido há 125 anos, não herdou o apelido Regateiro, que dá nome aos vinhos. Mas a mesma tenacidade, o gosto pelas viagens que abrem horizontes e o amor pelas vinhas corre-lhe nas veias. Tinha 11 anos quando trocou as voltas ao pai, dizendo que queria ser engenheiro agrícola, "numa altura em que a atividade na terra era associada à pobreza", e não industrial.
60 dos espumantes nacionais são produzidos na Bairrada. Metade têm Denominação de Origem, o que em 2019 equivaleu a 3,2 milhões de garrafas. A maioria fica no mercado nacional.
Os irmãos perceberam a dedicação e, aquando das partilhas, uniram-se em solidariedade e deixaram nas suas mãos a adega e as vinhas da família: 10 hectares dispersos em oito parcelas. Em vez da dificuldade de gestão, realça a possibilidade de "tirar o potencial [da especificidade] de cada parcela"
Nas viagens além-fronteiras, cedo percebeu que "o vinho é mais do que o líquido que está dentro da garrafa". Nos anos 1990 criou, na empresa onde trabalhava, "o primeiro enoturismo". No próximo ano quer que a adega da família, em Aguada de Cima, Águeda, abra também as portas aos turistas, dando a conhecer a história da família.
Para já, conta-a nas garrafas de vinhos e espumantes que lhe saem das mãos. "Todas têm uma história ou nasceram de uma provocação". O Vinha D'Anita surgiu quando a mãe, Ana, disse preferir vinhos mais frescos e com menor teor alcoólico, "como antigamente". O Vinha do Forno alude a uma vinha que o avô plantou há um século e que tinha mesmo um forno. O Raízes de Família branco 2015, lançado recentemente, vai "à essência da família".
Do que produz, 75% é exportado para a Europa, EUA, Canadá, Brasil, China, Japão e alguns países africanos. Faz questão que todos levem o selo de Denominação de Origem, símbolo de qualidade que, acredita, ajuda a dar valor aos produtos da Bairrada.
Certificação e investigação
Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola, defende que o futuro passará pela certificação, que ajudará a diferenciar o produto e a aumentar o seu valor. Cerca de metade das 6,5 milhões de garrafas produzidas na Bairrada em 2019 foram certificadas e a intenção é aumentar a quantidade.
No próximo ano, também o polo de investigação do espumante a instalar na Estação Vitivinícola em Anadia deverá ter definido o modelo de funcionamento e poderá avançar.
Decoração com aduelas
A adega está decorada com aduelas (ripas das pipas antigas) e outros artefactos ligados aos vinhos, assim como objetos pessoais. A ideia é que as visitas sejam acompanhadas por elementos da família.
Homenagem ao avô
A fotografia do avô Manuel Gomes Regateiro foi emoldurada com telhas, a lembrar outra atividade à qual a família estava ligada.
Gastronomia
Na adega já existe uma mesa e cozinha, para que se possam aliar os vinhos à gastronomia, proporcionando saborosos momentos de convívio.