Inquérito nas redes sociais demonstra que alunos estão "descontentes". Lançada petição a pedir fim deste modelo no próximo ano letivo.
Corpo do artigo
Milhares de estudantes da Universidade do Minho (UMinho) revelaram estar insatisfeitos com as aulas do ensino à distância que estão a ser adotadas na instituição, desde o início de março, altura em que se registou o primeiro caso positivo de covid-19 no campus de Gualtar, em Braga.
Num inquérito feito nas redes sociais, a que responderam cerca de 3000 alunos, 62% dizem estar "descontentes". Entretanto, já corre uma petição online a pedir o fim deste modelo no próximo ano letivo. A reitoria responde que tem "consciência da necessidade de realizar melhorias" (ler caixa ao lado).
De acordo com os resultados do inquérito a que o JN teve acesso, 85% dos alunos defendem que o ensino à distância "não permite novas aprendizagens" e 93% sentem-se "sobrecarregados". A maioria considera que as aulas são "mais penosas para a saúde mental" e 80% apontam "dramas" com as avaliações.
"Temos o tempo contado por pergunta. Houve um exame em que tivemos uma questão que era impossível concluir no tempo disponibilizado. Foi uma das experiências mais traumáticas. Em termos psicológicos, é muito stressante", conta um aluno de Medicina, que pediu para não ser identificado.
Teste com respostas
Alexandre Carvalho, aluno de Filosofia, também relata o caso de um teste com "50 escolhas múltiplas que teve de ser respondido em 30 minutos".
Em Economia, Ricardo Correia, um dos autores da petição online, conta que houve um teste que surgiu com as respostas, apontando a falta de preparação dos professores para este modelo de ensino.
Há ainda denúncias sobre professores que não dão aulas e propõem apenas trabalhos e outros que "recusam acesso às correções dos testes" ou "estão a tentar negar idas a exames de recurso ou melhoria de nota".
Assim, o despacho lançado pela UMinho com orientações para o próximo ano letivo - que aponta a possibilidade de haver cursos com 70% das aulas à distância - está a causar alvoroço. "Além da questão óbvia de estarem a ser prejudicados do ponto de vista pedagógico, juntam-se ainda as dificuldades de [os alunos] terem de comportar gastos com residência e deslocações", defendem os alunos na petição que, à hora do fecho desta edição, já contava com cerca de 1200 subscritores.
Para o presidente da Associação Académica da Universidade do Minho, Rui Oliveira, "a falta de formação dos professores e pouca interação entre os alunos e direções de cursos" são as principais justificações para o problema.
REAÇÃO
Reitoria está a ouvir alunos para fazer melhorias
"A Universidade do Minho tem plena consciência da necessidade de realizar melhorias quotidianas nos processos de ensino e de aprendizagem à distância. E, por isso, tem procurado assegurar a auscultação contínua dos estudantes e dos seus representantes, trabalhando em colaboração com a Associação Académica no sentido de recolher a reação, as opiniões e as sugestões dos estudantes", afirma o reitor, Rui Vieira de Castro, em resposta às inquietações da comunidade estudantil.
O responsável reconhece "dificuldades pontuais" no modelo de ensino atual, mas defende que o quadro geral é de "tranquilidade". Contudo, em caso de situações anómalas, a proposta é que, em primeira instância, estas sejam reportadas aos conselhos pedagógicos de cada escola ou instituto.
"O ensino à distância não é, nem queremos que seja, o modo normal de funcionamento da Universidade do Minho. A universidade anseia regressar ao quadro de funcionamento normal que é o seu", garante Rui Vieira de Castro.