Esta é uma história de sucesso. A Cerâmica Valadares, em Gaia, que foi declarada insolvente e depois ressuscitou, acaba de comprar as instalações onde está sediada.
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É mais uma etapa da empresa de louças que celebra o 99.o aniversário este ano e esteve em risco de desaparecer, entre 2012 e 2014. A aquisição dos 65 mil metros quadrados foi fechada em dezembro do ano passado e os mais de quatro milhões de euros do negócio vão entrar na massa falida, administrada pelo gestor judicial Castro Lima, o que permitirá saldar grande parte das dívidas aos 350 antigos trabalhadores que estão à espera do dinheiro desde o encerramento da fábrica, em 2012.
"Houve coragem para chegar a uma solução que parecia impossível. Aquilo que para muitos parecia um sonho [viabilidade da Valadares e pagamento dos créditos aos funcionários] foi conseguido", realça Henrique Barros, administrador da ARCH, sociedade formada por antigos quadros e investidores privados, que assumiu a gestão da Cerâmica desde 2014.
"Objetivo é crescer"
Os quatro milhões de euros foram obtidos mediante a "injeção de capital, o financiamento bancário e as vendas", algumas feitas com o stock de louças herdado.
Além de agradecer a "paciência" e a "resistência" dos antigos trabalhadores, assim como reconhecer a ação de "acompanhamento" por parte da Autarquia gaiense, outro dos destaques vai para o gestor judicial. "[Castro Lima] Teve visão e coragem. A solução encontrada é original. Estamos perante um caso de estudo e de exemplo para o país. Ao invés da destruição de património, preservou-se a empresa com a devida valorização", salienta.
O tribunal reconheceu os créditos em maio de 2019 e prevê-se que o pagamento seja efetuado durante este ano, sendo de registar que entre os antigos funcionários há quem continue a trabalhar na empresa, agora denominada ARCH. "Mais de 90% dos nossos trabalhadores são de Gaia. A insolvência da Valadares resultaria num sentimento de perda para a freguesia. Toda a gente envolvida no processo torceu para que tivesse sucesso", adianta Henrique Barros, no comando da Cerâmica que recomeçou atividade em 2014 com 20 pessoas e hoje emprega 135.
"O objetivo é crescer e levar o nome da Valadares a todo o lado", sublinha, anunciando para este ano um investimento entre 500 mil e 800 mil euros para a "conservação do património" e a "modernização da indústria".
Cronologia
Setembro de 2012
A fábrica da Cerâmica Valadares fechou. Os problemas de liquidez tinham começado em 2010. Mais tarde, a produção foi interrompida devido à falta de pagamento da conta do gás. Com o passivo a crescer e sem meios para responder às encomendas, foi declarada a insolvência.
Dezembro de 2012
Em cima da mesa esteve a proposta de liquidação controlada, aliada à hipótese de venda a possíveis investidores para reativar a fábrica. Nenhum investidor avançou e a solução não vingou.
Setembro de 2014
A sociedade ARCH, formada por antigos quadros da Valadares e por investidores privados portugueses, assume a gestão. A ARCH passa a comercializar a marca Valadares.
Dezembro de 2014
Simbólico. A sirene da fábrica Valadares voltou a funcionar. Era um sinal da retoma. Ainda hoje é uma marca sonora da localidade gaiense.
Fevereiro de 2015
Em setembro de 2014, recomeçou a atividade comercial, mas só a partir de fevereiro de 2015 é que foi reativada a produção industrial.
Maio de 1019
Tribunal reconhece os créditos dos antigos trabalhadores.
Dezembro de 2019
A ARCH, que até esta data pagava uma renda pelo espaço, passou a ser proprietária dos cerca de 65 mil metros quadrados. Paga mais de quatro milhões de euros, que entram na massa falida e servem para saldar dívidas a antigos funcionários.