Sentado numa cadeira, Acácio Trindade aguarda que a filha prepare o material para a sua primeira tatuagem. Tem 54 anos e vai eternizar no braço um desenho ao estilo renascentista da autoria da filha.
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A poucos metros, pronto para a quarta tatuagem, está Nuno Vieira. Com a agulha na mão, o amigo de longa data, Ivo Faria, vai contornando as primeiras linhas da imagem que Nuno quer gravar na pele: uma mulher e um palhaço, em representação da amizade que os une. São apenas duas das criações da 5.ª edição do Oporto Tattoo.
A convenção decorre até hoje no Pavilhão Multiusos de Gondomar e junta cerca de 250 tatuadores, oriundos de 17 países diferentes. Além das tatuagens e da partilha de experiências entre os profissionais, o evento tem uma vertente solidária. Parte do valor da entrada, - 7.50 euros por pessoa -, reverte a favor da Cruz Vermelha de Gondomar e Valongo.
"Andei anos a pensar na primeira tatuagem. Fiz um código de barras com as datas de nascimento dos meus pais e da minha filha. A partir daí, fiquei com o bichinho", conta Nuno Vieira, de 41 anos. Deitado na maca, tranquilo, Nuno revela o segredo para aguentar a dor: "Tomei dois ben-u-ron. O ano passado chateei muito o Ivo [tatuador]".
Promover trabalho
Promover os trabalhos e trocar experiências com colegas nacionais e internacionais são as principais motivações dos profissionais que participam no certame. Os preços variam consoante a tatuagem, podendo atingir os dois mil euros.
"Venho pelo convívio e pela diversão. Já tive clientes que gostaram do meu trabalho e depois foram à minha loja", explicou Ivo Faria, que tem um estúdio em Celorico de Basto.
Seguindo o barulho das máquinas, a tatuar no centro do Multiusos, está Bárbara Eusébio. É uma das poucas mulheres tatuadoras presentes. "Desde pequena que tenho acesso a este tipo de arte porque os meus pais sempre tiveram tatuagens. Estes eventos são importantes para que o cliente possa ver os diferentes estilos de tatuar e possa escolher o que gosta mais", defende.
Para o espanhol Leo Milhares, a convenção serve ainda para quebrar preconceitos. Tatua há quase 30 anos e reconhece que a visão da sociedade em relação às tatuagens tem evoluído. "Esta arte sempre foi muito relacionado com gente da má vida e com as prisões. Em Espanha, aos poucos fui limpando essa imagem. Tive a oportunidade de tatuar vários jogadores de futebol", recorda Leo Milhares.