Tanto a GNR como o ex-veterinário municipal de Santo Tirso, Jorge Salústio, estiveram, há cerca de dois anos, a vistoriar o abrigo de cães que no passado dia 18 ardeu, na serra da Agrela, matando 73 animais, mas as conclusões vertidas nos respetivos relatórios divergem quanto às características do espaço: enquanto os militares consideraram que este não tinha "o mínimo de condições de higiene", o técnico da Câmara contemporizou e atribuiu a parca limpeza ao "local e condições climatéricas".
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No relatório do veterinário, que acabaria por sustentar o arquivamento, em meados de 2018, de um processo-crime instaurado pelo Ministério Público, é reiterado que os animais eram "saudáveis" e afirmado que seria "benéfica" a sua permanência no abrigo Cantinho das Quatro Patas. "Apresentavam sinais de bom estado de saúde e estavam bem nutridos"; "alguns tinham e outros não" microchip e vacinas, relatou o profissional.
Denúncia particular
"O que verifiquei, e é perfeitamente normal num abrigo com cerca de 170 canídeos, foi a presença de muito material inutilizado espalhado por todo o recinto, o que só por si dá um aspeto de lixo. Também dado o local e as condições climatéricas, a higiene era má", justificou Jorge Salústio, que, sem indicar as dimensões dos espaços, diz também ter observado "áreas vedadas que alojavam vários canídeos (mais ou menos quatro ou cinco por cada)", que "apresentavam material que eventualmente não é aconselhável, pois pode provocar lesões".
As conclusões do Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) do Destacamento de Santo Tirso da GNR foram, porém, mais contundentes. Em janeiro de 2018, o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR responde a uma denúncia particular feita em dezembro de 2017 e esclarece, com base num relatório elaborado pelos militares no âmbito do processo-crime que então decorria, que o Cantinho das Quatro Patas "foi alvo de fiscalização pela primeira vez, pelo referido NPA, em 5 de setembro de 2006, sendo ao longo do tempo elaborado diverso expediente", de que são exemplo autos por contraordenação nesse ano e em 2008.
Além de contabilizar, em 2017, "cerca de 150 cães" no abrigo, a GNR verificou que "as instalações não apresentam o mínimo de condições de higiene, sendo constatada a existência de vário tipo de lixo, maioritariamente resultante de embalagens de alimentação". "Os abrigos dos canídeos, dispersos pelo terreno, são de variada tipologia e variado material, tais como recipientes de 1000 litros, caixas frigoríficas de veículos, malha sol e autocaravanas", testemunharam os militares.
No parecer que elaborou, o veterinário concluiu, no entanto, que "a maioria destes canídeos é velha, de difícil adoção, apesar de apresentarem todos eles um aspeto de saúde", e sublinhou que "não lhes falta nem água nem comida e também atenção da parte das responsáveis". Notando que "uma eventual solução para este problema passaria pelo abate" dos animais, Salústio aconselharia: "Se [os cães] lá permanecerem, e depois de melhorados alguns aspetos de higiene, será benéfico para eles". O processo-crime foi arquivado.