Composições cheias levam passageiros ao desespero, até porque há quem não consiga entrar. Empresa avança com medidas para aumentar a oferta.
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"Há dias que quase não consigo entrar, e quando consigo vou sempre de pé e apertada". As palavras são de Carina Remelgado, mas espelham o sentimento de milhares de passageiros do metro do Porto, cujas composições circulam com lotação quase esgotada, sobretudo nas horas de ponta. Há muita gente que fica em terra. Falta de horários e poucos veículos são as principais queixas dos utentes.
Em resposta ao JN, a Metro do Porto reconheceu que a "procura na rede tem vindo a crescer exponencialmente ao longo deste ano", atingindo os níveis de pré-pandemia. Por exemplo, na Linha Amarela, que faz a ligação a Gaia e é a mais procurada da rede, viajam diariamente perto de 80 mil clientes. Na Linha Laranja, onde também se multiplicam queixas, há cerca de sete mil passageiros por dia.
Henrique Sobral viaja regularmente na Linha Laranja, que faz ligação entre Fânzeres e a Senhora da Hora. Segundo o jovem, que entra em Fânzeres e sai na Trindade, "as composições ficam cheias a meio do percurso, e até chegar à Trindade, que é onde a maioria sai, a viagem faz-se de apertos e de grande desconforto".
Utilizadora da Linha Amarela, que liga Santo Ovídio e o Hospital de São João, Carina Remelgado afirma que devia ser aumentada a frequência de passagem dos veículos. Ainda assim, admite que será uma medida difícil, uma vez que "a frequência já é muito curta".
Fabiana Pires reside em Paredes e está a estudar na Universidade da Maia (ISMAI). Todos os dias faz o mesmo percurso: entra no comboio em Paredes e vai até Campanhã. Quando chega, espera pelo metro da Linha Verde, que faz ligação até ao ISMAI. "Antes chegava aqui e esperava 15 minutos, e agora chego a esperar meia hora pelo metro", afirmou Fabiana Pires.
"É sempre um caos"
Residente em Vila Nova de Gaia, Eugénia Mendes entra em Santo Ovídio com destino ao Campo 24 de Agosto. O trajeto implica um transbordo na Trindade. A passageira revela que, nesta estação, "é sempre um caos", e acrescenta que, "quando o metro está lotado, prefere esperar pelo próximo". Eugénia observou que a situação piora quando há avarias ou acidentes. Sobre esta matéria, a Metro do Porto explicou: "Mesmo que ligeiras, as avarias provocam um impacto na oferta programada e levam à diminuição dos níveis de conforto dos clientes". Na semana passada, o mau tempo terá contribuído para um "número inusitado de acidentes", que causaram fortes perturbações.
E ainda que a empresa tenha introduzido uma alteração no layout interior dos veículos, para garantir uma maior lotação, a passageira Inês Amaral entende que a modificação "é insuficiente" para melhorar a situação na Linha Amarela, e que o problema persiste.
Metro do Porto
Como medidas de melhoria das condições de operação, a Metro do Porto assegurou que no primeiro semestre de 2023 a Linha Amarela passará a ter 12 veículos por hora e sentido nas horas de ponta, ou seja, uma frequência de cinco minutos. Depois das obras na estação do Hospital de São João este ano, a operadora também vai aumentar a capacidade de tração da subestação de General Torres, o que "irá elevar em 45% a oferta na hora de ponta desta linha".
A empresa reforça que a oferta está nos níveis de 2019, lembrando que está em curso o processo de aquisição de 18 novos veículos que "irão reforçar a capacidade global do serviço nas várias linhas". O primeiro veículo chega ainda este ano e os restantes em 2023, em entregas mensais.
Detalhes
Frequência
Na linha Amarela, a frequência mais curta é de seis minutos, e acontece entre as 7 e as 20 horas. Na linha Laranja, a frequência mais curta é de 12 minutos, das 7 às 10 e das 16 às 20 horas.
Clientes satisfeitos
O índice de satisfação dos clientes fixou-se nos 85,6 pontos (de 100), segundo o último inquérito, já deste ano. Segundo a Metro, é dos valores mais altos desde que o estudo é feito.
Monitorização
A empresa garante fazer uma monitorização em tempo real da operação e reconhece que nas horas de ponta, em alguns pontos específicos da rede, há casos de lotação próxima do máximo, designadamente nos troços General Torres/Trindade e Campanhã/Casa da Música.