Instituições mantêm regras apertadas apesar de a grande maioria já ter completado a imunização.
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A sala de visitas tem porta para a rua. Há desinfetante de mãos à entrada e acrílico a separar o espaço ocupado por familiares e utentes. As proteções que o Lar da Piedade, da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, adaptou durante a pandemia continuam as mesmas. A vacinação na instituição já foi concluída, mas a vigilância contra a covid-19 não desarmou. Nem um milímetro. Quem ali vive não sai à rua há cerca de um ano. E sofre com as saudades, embora já com esperança de que dias melhores estão próximos.
Organizações como a União das Misericórdias e a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) defendem que, mesmo com a maioria dos lares vacinados, "não se pode desarmar". Há que manter todos os cuidados, até que chegue a tão sonhada imunidade de grupo. Até lá, os afetos terão de continuar a ser transmitidos com distanciamento.
"Abraços, estou convencido de que só quando houver imunidade de grupo. O vírus não pede licença para entrar na pessoa. Segundo o que vem sendo anunciado, só no verão é que teremos imunidade de grupo, portanto até lá, abraçar não será possível", afirma Lino Maia, presidente da CNIS. "Está tudo mais sereno, mas não se pode baixar a guarda, porque continua a haver perigo. O ser vacinado não quer dizer que não se possa ser infetado ou transmissor do vírus". Adianta, de resto, que "no conjunto dos 3500 lares" existentes em Portugal, ainda subsistem "mais de 60 surtos", segundo dados da última quinta-feira.
"A vacinação não mudou nada a nível de procedimentos. O que mudou foi a questão psicológica e isso, parecendo nada, é muito. As pessoas sentem-se finalmente mais seguras e começam a ver uma luz ao fundo do túnel", evidencia Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas.
Há um ano que não saem
Contudo, Luísa Novo Vaz, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, a que pertence aquele equipamento, afirma que o fecho dos lares ao contacto com o exterior, determinado em março de 2020 pelo Ministério da Saúde, "causa muitos transtornos". "Estar há um ano sem sair, a ver as famílias à distância - e isto só a partir de junho de 2020 -, é um sofrimento para estas pessoas", comentou, considerando que "a medida é muito drástica, mas necessária, porque o vírus está lá fora".
Maria Isabel Serafim de 84 anos, utente do Lar da Piedade, lamenta: "Ver os meus netos fora da porta e eu aqui sentada, faz muita confusão. Tenho um casalinho. Eles vêm aqui de propósito e ficam à porta. Custa muito". E acrescentou: "Graças a Deus, o vírus não apareceu aqui e agora com a vacina estou muito mais descansada. Isso nem se discute. A gente agora só anseia por dar um passeiozinho. A minha neta diz que ainda me vai levar a Fátima e a Lisboa".
O mesmo anseio é partilhado por Filipe Martins de 83 anos. "Todos nós pensamos na vacina como uma salvação. Apanhando-a estamos safos", afirmou frisando a necessidade de uma escapadela. "Qualquer prisão é má. Dar uma volta só faz bem à saúde e à mente. É o que mais quero. Passear e conversar com as pessoas amigas", concluiu.