"A idade do cacifo" estreia a 25 de maio e abre o cacifo das angústias, alegrias, incertezas dos mais novos. A peça "nasceu da vontade de abordar a temática da adolescência" para que possa ser "mudada a forma como se olha para esta fase da vida de qualquer ser humano", resume Sérgio Agostinho, fundador e codiretor artístico da Peripécia Teatro.
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Num palco escuro surgem três blocos brancos de cacifos. Um abre-se para mostrar o multi-instrumentista que há de criar o envolvimento sonoro aos três atores que saem de outro. Comportam-se como adolescentes, com toda a irreverência, angustias, alegrias e incertezas típicas da idade. E todos dão corpo a "A idade do cacifo", a nova produção da companhia Peripécia, que estreia a 25 de maio, no Teatro de Vila Real.
Sérgio Agostinho, fundador e codiretor artístico da Peripécia Teatro, explica que esta peça "nasceu da vontade de abordar a temática da adolescência" para que possa ser "mudada a forma como se olha para esta fase da vida de qualquer ser humano".
O também ator, que desta vez não entra na peça nessa função, nota que "há milénios que se anda a tratar mal a adolescência, pelas suas ideias e forma de estar, e já chega". Ou seja, "passar a assumi-la como uma fase importantíssima na vida de cada um" e que "não deve ser olhada de forma pejorativa".
Anda-se a ensinar crianças e jovens da mesma forma desde o século XIX
Como a peça há de ser vista por jovens e menos jovens, também se pretende que os que já são pais percebem que os adolescentes "não têm certos comportamentos porque lhes apetece, mas porque é da sua biologia". Aos mais novos transmite-se a ideia de que é preciso estudar, mas Sérgio Agostinho lembra que "é preciso rever a forma", pois "anda-se a ensinar crianças e jovens da mesma forma desde o século XIX". "Talvez seja o momento de perceber que já não está a funcionar, pois muitos já não vão motivados para a escola".
Para conseguir ter uma noção mais precisa do que iria incluir na nova criação, a Peripécia foi à Escola Secundária Camilo Castelo Branco, em Vila Real, "viver um bocadinho a vida dos adolescentes". Durante alguns dias, os atores "presenciaram-nos e ouviram-nos", com o objetivo de captar "palavras e ideias-chave".
Uma das coisas mais impactantes, sobretudo em mim, é que ao fim de meia jornada na escola já estava esgotado
"Uma das coisas mais impactantes, sobretudo em mim, é que ao fim de meia jornada na escola já estava esgotado", lembra Sérgio Agostinho, o que o fez pensar que "se calhar se está a exigir muito deles ao nível da carga horária e dos conteúdos".
Neste contacto com os alunos a Peripécia também procurou "perceber o que marca hoje o dia-a-dia dos adolescentes, concretamente as temáticas que são motivo de angústia" e "de que forma estas questões são abordadas em contexto escolar".
O projeto aborda temas como a saúde mental, as questões de género, a orientação sexual, o "bullying", a ansiedade climática ou a violência no namoro.
Depois da estreia a 25 de maio, no Teatro de Vila Real, "A idade do cacifo" estará, depois, em cena a 02 de junho, em Sabrosa.