Programa, que hoje se designa PREVINT, começou há cinco anos na Universidade de Vila Real. Agressões psicológicas no topo das queixas.
Corpo do artigo
Nasceu como uma régua que representava vários escalões de violência. Chamava-se Violentómetro e aplicava-se aos estudantes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real (UTAD). Cinco anos depois, o Programa de Prevenção da Violência Interpessoal (PREVINT) tem um site na Internet com milhares de visualizações e envolve 20 mil estudantes de 180 escolas portuguesas. Mais de 28% já foram vítimas de algum comportamento violento.
Ao JN, o coordenador do programa, Ricardo Barroso, precisa que "de uma amostra de 7139 adolescentes, cerca de 80% (5711) foram vítimas de maus-tratos psicológicos, quase 71% (5068) sofreram agressões físicas e cerca de 5% (357) queixaram-se de violência sexual".
O responsável salienta que a maioria dos episódios de violência física e psicológica "aconteceram uma ou duas vezes", mas houve casos em que "pareceu serem repetidos". Tendo em conta o universo de 20 mil alunos envolvidos no processo de intervenção preventiva, o também psicólogo e docente da UTAD, entende que se trata de "valores muito altos do ponto de vista da presença de violência" nas escolas.
Adolescentes desvalorizam
A equipa do PREVINT deparou-se com "um conjunto de atitudes que não são consideradas violência e que parecem não ter grande impacto, quando, na verdade, o têm". São comportamentos enquadrados no universo da "violência psicológica". Ricardo Barroso dá exemplos: "gozar, empurrar, magoar, entre outros".
Os adolescentes não têm a noção do que é magoar o outro severamente
O psicólogo salienta que "os adolescentes não têm a noção do que é magoar o outro severamente, muitas vezes em termos físicos ou sexuais". Nos casos de violência psicológica, são amiúde atitudes de "acusação ou diminuição do outro", seja "por não fazer bem uma coisa ou porque tem uma determinada característica física".
Podem não ser entendidos como procedimentos violentos, mas "têm impacto na vida das pessoas, em particular, nos adolescentes".
Normalmente, estas condutas são justificadas "com a idade, que é a brincar, que é normal e que toda a gente faz".
Evolução enorme
O Programa de Prevenção da Violência Interpessoal foi desenvolvido para "sensibilizar os adolescentes para que percebam o que é a violência e como é que ela tende a funcionar". Tem-se revelado "muito eficaz na mudança das atitudes que a legitimam", nota Ricardo Barroso. Na sua opinião, teve "uma evolução enorme" desde o início e o balanço de cinco anos "é extremamente positivo". "Não contava que atingisse esta dimensão", sublinha.
O estudo realizado vai ser publicado em breve. Entre as conclusões, destaca que o programa "tende a funcionar melhor com adolescentes com idades entre os 11 e 16 anos". Nos outros "também é eficaz, mas requer outras estratégias". O que também se concluiu é que "não há nenhum indicador que diga que atualmente existe mais violência do que existia no passado".
No entanto, "há mais cobertura mediática e pode-se criar essa perceção". O que acontece, sublinha o psicólogo, é que "as pessoas estão cada vez mais sensibilizadas para comportamentos de violência e para a sua denúncia". A Escola Segura das autoridades policiais "facilita o processo de denúncia e, até, o seguimento dos casos".
Régua e denúncias
A régua do violentódromo continua a ser usada numa das primeiras sessões da intervenção com adolescentes para que entendam, do ponto de vista visual e gráfico, como é que surge a escalada dos comportamentos de agressão. Enquanto antigamente as pessoas achavam que não fazia sentido delatarem coisas que eram de miúdos, "hoje já não é bem assim", diz o psicólogo Ricardo Barroso.
Muito a fazer
Apesar de a situação atual, em termos dos apoios, ser "muitíssimo melhor", Ricardo Barroso diz que "ainda há muito a fazer". Designadamente, "uma profissionalização do sistema de prevenção", pois "são raros os casos em que há planeamento sustentado". A coordenação do PREVINT está a tentar "trabalhar com os municípios e outras entidades", para que possam ajudar a "planear a melhor forma de combater o comportamento violento".