Em Guimarães, há dois movimentos que já ajudaram centenas de famílias em situações emergentes de vulnerabilidade. Os grupos "Servir sem olhar" e o "Ajudar o próximo" fazem da informalidade vantagem para serem mais rápidos no auxílio a quem precisa.
Corpo do artigo
Foi através da Segurança Social que Virgínia chegou ao "Ajudar o próximo". Saiu da cadeia, em setembro, depois de cumprir oito anos de uma pena de 14 e meio. A Segurança Social arranjou-lhe dinheiro para os primeiros meses de renda numa pequena casa, mas era preciso tudo, desde a cama ao frigorífico e um emprego para poder continuar a pagar a renda. Neste caso, os dois movimentos trabalharam em conjunto e, em poucos dias, tinham a casa mobilada. "Tenho até um quarto para a minha menina", mostra Virgínia, orgulhosa, aos 39 anos, com a primeira casa a que pode chamar sua. O próximo passo na sua vida é recuperar a guarda da filha.
Arranjar emprego para alguém com cadastro não é fácil. Virgínia fez várias tentativas: primeiro num lar, depois numa fábrica de calçado. "Quando sabiam que eu tinha estado dentro, mandavam-me embora", conta. Mas o grupo "Ajudar o próximo" arranjou-lhe um lugar num restaurante.
"A nossa vantagem é a rapidez. Ajudamos quem precisa, quando precisa. Não queremos perder isso enredando-nos em papéis", afirma Jorge Santos do "Servir sem olhar". Reconhece que, pelo facto de não fazerem um escrutínio tão apertado como outras instituições, podem cometer erros. " Mas prefiro isso a deixar alguém que precisa sem ajuda", frisa.
Reconhecimento
Ana Alpoim, do "Ajudar o próximo", concorda e as instituições do Estado também reconhecem o valor destes movimentos. "Inicialmente, os pedidos de ajuda chegavam pelo "passa palavra", das famílias que tínhamos ajudado. Há algum tempo, começamos a receber pedidos da Segurança Social, das casas do povo e da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens".
Em dezembro de 2020, o "Servir sem olhar" angariou 3500 euros, em poucos dias, para uma cadeira elevatória a Ana Cláudia, de 17 anos, com trissomia, autismo, epilepsia, dificuldades respiratórias e mobilidade reduzida. O equipamento mudou-lhe a vida e a da família.
Muitas das pessoas que ajudam fazem parte de uma rede que se vai alargando e que agora assenta muito na Internet. "Vou a casa de um amigo e digo que preciso da sua carrinha, vou à loja de outro e peço-lhe uma bilha de gás. É assim que funciona", atalha.
Pandemia
O "Servir sem olhar" e o "Ajudar o próximo" já existiam antes da pandemia, mas ganharam mais ação com as dificuldade das instituições responderem em tempo útil. "Ninguém estava preparado para ter dois ou três computadores em casa", lembra Jorge Santos. O seu movimento distribuiu mais de 40 computadores desde 2020.
Encaminhar
Tiago, de 33 anos, de Famalicão, com uma doença degenerativa, vai ter uma cadeira de rodas nova. A doação, de um empresário, surgiu depois de o "Servir sem olhar" lançar um pedido nas redes sociais.