No Bairro do Sobreiro há blocos que ficaram por reabilitar. Edifícios estavam para ser demolidos, mas apesar da degradação continuam a albergar dezenas de pessoas.
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Frio e humidade, paredes enegrecidas, caixilharia podre. A chuva entra nas habitações pelas janelas. As zonas comuns dos blocos têm o cimento carcomido. Os arrumos do rés do chão estão alagados por água vinda do subsolo. As entradas dos prédios estão estragadas. Os moradores do Bairro do Sobreiro, na Maia, na meia dúzia de blocos que não foi requalificada, desesperam e temem pela sua segurança e saúde. A Câmara reconhece as "condições indignas" de habitabilidade, mas diz não ter uma solução imediata.
Olinda Silva reside ali com a filha Catarina há dois anos e quatro meses. "Vim de Pedras Rubras e fui realojada num local de que gosto, por estar perto do emprego, mas numa casa sem condições. Na altura estava toda pintada e limpa, mas mal eu sabia o inferno que seriam os meus dias dali para a frente", conta ao JN, enquanto varre a entrada, sendo os espaços comuns parte das áreas mais degradadas do bloco 44.
O Bairro do Sobreiro foi construído há 40 anos no centro da Maia e tem vindo a ser recuperado numa intervenção da empresa Espaço Municipal que contempla não apenas as fachadas e coberturas mas também a caixilharia e ainda o espaço público, incluindo os jardins e equipamentos, a construção de um centro comunitário e sociocultural e um novo arruamento que vai atravessar todo o empreendimento.
A requalificação está praticamente concluída e os últimos blocos seriam para demolir. "O problema é que a Câmara da Maia não diz quando e as casas estão cada vez em pior estado", acrescenta Maria da Glória Valente, outra inquilina municipal. Não só chove nas entradas dos blocos como a água entra pela caixilharia. Glória mostra o teto do quarto, negro de humidade. Olinda diz que não tem saúde para continuar a viver ali. "E depois é o cheiro que isto causa, andamos sempre com ambientadores mas também isso não é bom para a saúde!", explica Luísa, filha de Glória que ali reside há 40 anos. "O pior é que continuam a realojar pessoas aqui, em condições indignas", diz Olinda.
Câmara reconhece problema
O responsável pela empresa municipal que gere o património habitacional do concelho reconhece o problema. "As pessoas têm toda a razão porque na realidade as casas estão em muito mau estado", diz Fialho de Almeida, diretor executivo da Espaço Municipal. Contudo, "a empresa não tem uma solução imediata".
Fialho de Almeida diz que a Autarquia ainda está a analisar a situação dos blocos em causa. "A curto prazo poderá haver uma solução de compromisso. Vamos construir nova habitação no âmbito do programa 1.º Direito e esperamos assim ter possibilidade de fazer todos os realojamentos necessários", acrescenta o responsável da Espaço Municipal, garantindo que, "dentro de dois anos, o Bairro do Sobreiro estará completamente diferente, mais aberto à cidade".
O bairro tem no total 606 casas, distribuídas por 44 blocos, que incluem quatro edifícios em torre e vários espaços de comércio e serviços. Inaugurado em 1981, esteve para ser totalmente erradicado em 2001 com o então autarca Vieira de Carvalho a considerar não valer a pena investir mais dinheiro no complexo habitacional.
O projeto não avançou e o atual executivo optou por manter o bairro no local e avançou com a requalificação. Em julho do ano passado, o bloco 63, há muito devoluto, foi demolido para permitir a construção de um novo arruamento a ligar a Rua Central do Sobreiro à Rua Altino Coelho.