Aitana Bonmatí: três Bolas de Ouro entre livros e a guitarra na serenidade da Catalunha
À margem da fama, a estrela do Barcelona e da seleção espanhola mantém-se fiel a Sant Pere de Ribes, a vila catalã que a viu crescer. Entre livros, guitarra e passeios pelo Mediterrâneo, Aitana Bonmatí constrói um império sem perder o pé no chão e inspira uma geração de jovens futebolistas, já com três Bolas de Ouro no currículo.
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O mar de Sitges a poucos minutos, as ruas estreitas de pedra e o cheiro a pinhal são a paisagem diária de Aitana Bonmatí. Apesar de ser a primeira futebolista feminina a conquistar três Bolas de Ouro consecutivas (2023, 2024 e 2025), a jogadora continua a viver em Sant Pere de Ribes, Catalunha, onde nasceu a 18 de janeiro de 1998. "Ribes é a minha casa, é onde reencontro a minha gente", diz sempre que regressa dos grandes palcos.
Filha única de Rosa Bonmatí e Vicent Conca, professores de Língua e Literatura Catalã, cresceu numa casa cheia de livros. "A casa dos meus pais parece mais uma biblioteca do que um lar", confidenciou. Entre estantes e pátios de escola descobriu a bola: primeiro em equipas masculinas, depois em clubes locais, até que La Masia, a academia do Barcelona, a acolheu aos 12 anos.
A sua determinação ficou patente desde cedo. Os pais batalharam para que o apelido materno viesse em primeiro lugar - um gesto que reforçou a identidade da jogadora. "Orgulho-me do que fizeram por mim", afirma, lembrando a importância da família na sua formação pessoal e desportiva.
No relvado, a carreira fala por si: três Ligas dos Campeões, cinco campeonatos espanhóis, sete Taças da Rainha, o Mundial de 2023 e a Europeu de 2025 com a seleção espanhola.
Na segunda-feira, Aitana Bonmatí fez história ao conquistar o terceiro prémio consecutivo da Bola de Ouro, tornando-se a primeira mulher a atingir este feito e apenas a terceira jogadora na história do futebol, ao lado de Platini (1983-85) e Lionel Messi (2009-12). Cada conquista reforça a imagem de "cérebro" do meio-campo blaugrana, com visão periférica e passes milimétricos que lembram Xavi e Iniesta.
Entre treino, livros, guitarra e inspiração
Licenciada em Ciências da Actividade Física e do Desporto e mestre em Gestão Desportiva pelo Johan Cruyff Institute, Aitana não abdica do estudo. Lê de tudo, da poesia à história, e nos tempos livres toca guitarra e passeia com os amigos de infância. "Eles lembram-me de quem sou", salienta.
Apesar do sucesso mundial, mantém a rotina simples. Vive discretamente, rejeita contratos com apostas ou criptomoedas e escolhe parcerias alinhadas com os seus valores, como Adidas, Bimbo, EA Sports ou Nissan. É embaixadora do ACNUR e participa em campanhas de educação e sustentabilidade, usando a visibilidade para causas sociais.
Mais do que troféus, Aitana tornou-se referência para todas as meninas que sonham com a bola nos pés. Em Espanha, e também em Portugal, a prática do futebol feminino cresce: em março de 2025, a Federação Portuguesa de Futebol registou mais de 20 mil praticantes, muitas inspiradas por trajetórias como a dela.
Três Bolas de Ouro poderiam ter mudado a sua essência, mas Aitana mantém o que sempre a definiu: talento, estudo e compromisso social. Entre livros e relvados, prova que a grandeza também se mede pela capacidade de permanecer fiel às raízes e de inspirar a próxima geração.