O presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-dama, Brigitte, acusam a influenciadora Candace Owens de propagar teorias falsas sobre a identidade de género de Brigitte Macron. Queixa apresentada no Delaware denuncia uma "campanha global de humilhação" e exige uma indemnização exemplar.
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Emmanuel e Brigitte Macron apresentaram esta quarta-feira uma queixa por difamação contra a influenciadora norte-americana Candace Owens.
O processo foi apresentado no Tribunal Superior do Estado de Delaware, nos Estados Unidos, e acusa a comentadora de extrema-direita de liderar uma campanha sustentada de humilhação pública com base em alegações falsas sobre a primeira-dama francesa.
O presidente francês Emmanuel Macron e a sua mulher são alvos de uma teoria conspirativa que alega falsamente que Brigitte Macron teria nascido homem, com o nome de Jean-Michel Trogneux - o nome do seu irmão mais velho.
Esta tese foi amplificada por Owens no podcast "Becoming Brigitte", uma série de oito episódios com mais de 24 milhões de visualizações no YouTube, reforçada por publicações nas redes sociais e um livro que acabou por ser retirado da Amazon.
Campanha de humilhação e resposta da influenciadora
A queixa judicial refere que Owens "dissecou a sua aparência, o seu casamento, os seus amigos, a sua família e a sua história pessoal, distorcendo tudo numa narrativa grotesca concebida para inflamar e degradar", resultando num "bullying implacável à escala mundial".
O processo inclui 22 acusações formais e pede uma indemnização exemplar pelos danos morais e reputacionais causados ao casal presidencial.
Segundo o comunicado divulgado por Emmanuel e Brigitte Macron, a ação judicial foi interposta depois de Owens se ter recusado a três pedidos para retratar as declarações difamatórias. "Dado que Candace Owens reafirmou sistematicamente estas mentiras, concluímos finalmente que a única solução que nos resta é levar o caso a tribunal", explicam, acrescentando que estão disponíveis para comparecer pessoalmente no julgamento nos Estados Unidos.
Candace Owens respondeu no mais recente episódio do seu podcast, afirmando que o processo está "repleto de imprecisões factuais" e que faz parte de "uma estratégia de relações públicas óbvia e desesperada" para manchar a sua reputação. A influenciadora afirmou ainda não ter conhecimento de que seria processada, embora advogados de ambas as partes estejam em contacto desde janeiro.
A teoria em causa começou a circular logo após a eleição de Emmanuel Macron, em 2017, tendo sido inicialmente promovida por Natacha Rey, uma autoproclamada jornalista, e Amandine Roy, uma alegada médium espiritual.
Ambas foram condenadas em setembro de 2024 a pagar indemnizações a Brigitte Macron e ao seu irmão, mas acabaram por ser absolvidas a 10 de julho. Brigitte Macron recorreu para o Supremo Tribunal francês.
Este caso é raro a nível internacional, pois envolve um presidente em funções a mover um processo judicial por difamação contra uma cidadã estrangeira. O advogado dos Macron assegura que Owens tinha pleno conhecimento da falsidade das alegações, mas recusou sempre pedidos de correção.
O desfecho do processo, que ainda não tem data para julgamento, poderá ter implicações importantes nos limites da liberdade de expressão e na responsabilidade legal pela divulgação de desinformação a nível global.