Lena d'Água recorda dependência de heroína: "Vendi o apartamento para pagar as coisas"
No "Alta Definição", Lena d'Água recordou os anos marcados pela dependência de heroína. Vendeu o apartamento para sustentar o vício, mas conseguiu libertar-se, cuidar dos pais e reconstruir a vida com a leveza de quem se reconciliou com o passado.
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"Vendi o apartamento para pagar as coisas." A confissão de Lena d'Água, feita no programa "Alta Definição", da SIC, marcou um dos momentos mais intensos da conversa com Daniel Oliveira. Sem dramatismos, a cantora de 69 anos recordou o período em que a dependência de heroína lhe consumiu bens, tempo e energia. "Fumei o meu apartamento", admitiu, com honestidade.
Apesar da queda, Lena conseguiu recuperar-se e retomar o controlo da vida. "Livrei-me daquilo a tempo de acompanhar o meu pai, que estava muito doente. Ainda foram dois anos limpa, completamente disponível para tratar dos meus pais", recordou.
"O círculo da heroína não existe"
Sobre o consumo, Lena d'Água foi direta: "O círculo da heroína não existe. És tu e o dealer. Não há mais ninguém. Quase total solidão." O corte, contou, "é de um dia para o outro". Mas o mais difícil vem depois. "O difícil é recuperar a tua vida. Voltar a fazer as coisas que deixaste de fazer, ir ao cinema com uma amiga, jantar com um amigo..."
As dores físicas, disse, "passam numa semana". O resto exige tempo e trabalho interior. "Fui para o Estado, para uma desintoxicação simples. Como uma pessoa qualquer. Eu era uma pessoa qualquer", lembrou.
Durante o processo, não sentiu vergonha nem julgamento: "Éramos cinco ou seis naquela casa em Coimbra. Estávamos todos na mesma situação: limpar o corpo daquela porcaria e seguir em frente."
Os pais e a filha foram o seu apoio incondicional. "Contei logo aos meus pais. Eles souberam sempre, de princípio ao fim. Claro que sofreram, mas nunca ralharam comigo. O dinheiro era meu, e o que fiz foi o que escolhi fazer da minha vida", acrescentou.
Questionada sobre que ajuda se pode dar a alguém preso nessa espiral, Lena respondeu: "É continuar a amar. E não dar dinheiro."
Serena e sem vergonha de nada
Hoje, Lena d'Água fala com serenidade. "Não tenho vergonha de nada. Às vezes, de ser um bocado brutamonte, sim. Mas peço desculpa. Senão, não fico bem", confidenciou.
No mesmo programa, a artista recordou ainda um episódio de violência doméstica de que foi vítima e do qual conseguiu escapar. "Foi uma sorte, a primeira vez podia ter ficado ali... Fui estrangulada no chão da cozinha", relatou, descrevendo como sobreviveu e encontrou força para recomeçar.
A semana passada, Lena d'Água foi distinguida com o Globo de Ouro de Melhor Intérprete, na 29.ª edição da gala da SIC. No ano passado lançou o álbum "Tropical Glaciar", da autoria de Pedro da Silva Martins - um trabalho que reafirma a vitalidade e a liberdade criativa de uma mulher que nunca deixou de cantar a verdade da sua vida.