<p>Perante jornalistas de cinco televisões estrangeiras, entre as quais duas alemãs, o primeiro-ministro e o líder do maior partido da Oposição deram sinais públicos de entendimento com "sentido de responsabilidade" para assegurar um "quadro de estabilidade". </p>
Corpo do artigo
Pedro Passos Coelho tomou a iniciativa do encontro e José Sócrates disse ter apreciado o gesto. E a residência oficial do primeiro-ministro, em S.Bento, foi o cenário escolhido para os dois primeiros responsáveis dos partidos centrais do sistema político darem o "sim" a um acordo conjuntural de resposta ao que o primeiro-ministro designou de "ataque especulativo sem fundamento, quer ao euro quer à dívida soberana portuguesa".
O cenário seguinte foi o Palácio de Belém, onde o chefe do Governo, acompanhado do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, foi "sossegar" o presidente da República, ao poder garantir que há uma base de acordo possível entre socialistas e sociais-democratas. À saída ninguém falou, como é habitual, mas os sinais públicos, mais uma vez, foram dados por gestos com a singularidade da presença do ministro na reunião semanal entre Sócrates e Cavaco, desta vez antecipada de quinta para ontem. (ler pág.5)
Sócrates esteve em condições de dizer ao chefe de Estado que o acordo, que para já é de resposta imediata aos mercados, poderá ser aprofundado se as condições económicas e financeiras o exigirem. Essa ideia foi, aliás, esboçada no final do encontro, de cerca de uma hora e meia, em S.Bento. Sem direito a perguntas dos jornalistas, ambos os políticos deram a entender que partir de ontem nada ficará como antes.
"O governo e o PSD não desistem de trabalhar em conjunto em matéria de compromissos internacionais", anunciou Sócrates, depois de ter sublinhado que ficou "combinado que um acompanhamento conjunto da situação com muita regularidade e muita intensidade".
Das palavras de Sócrates, que falou antes de Passos Coelho, ressalta ainda a garantia de que o Governo está "absolutamente determinado a fazer tudo o puder" para cumprir os compromissos de baixar o défice e restaurar a confiança dos investidores. Por isso, disse estar "muito disponível" para ouvir as propostas do PSD e dos outros partidos.
O líder do PSD avisou que não serão "as diferenças políticas" que irão "impedir de oferecer a Portugal um quadro de estabilidade para que os objectivos orçamentais sejam conseguidos". E porque, disse, "o interesse do país está acima de tudo", o PSD empenhar-se-á em garantir a concretização "de todas as medidas que se revelam necessárias". Em troca, Passos Coelho afirmou ter tido a garantia de Sócrates de analisar "medidas de reforço do PEC".
A data do próximo encontro não foi revelada.
Pedro Duarte: 'Não foi pontual nem o início de um acordo de [Bloco Central', vice-presidente do grupo parlamentar do PSD]
Este encontro do líder do PSD com o primeiro-ministro pode indiciar uma relação futura mais pacífica?
O líder do PSD prova, desta forma, que tem sentido de Estado e de responsabilidade face à situação de emergência que o país vive. O PSD sempre falou verdade; e sempre tem dado mostras do estado em que o país se encontra. O PS e, em particular, o engenheiro José Sócrates vê-se obrigado a reconhecer aquilo para que o PSD alerta há muito tempo.
Vai alterar a posição que a actual direcção do PSD tem contra o PEC?
Não. Pelo contrário. Os últimos dados [conhecidos] reforçam que a opinião do PSD é a mais válida, e que as propostas que o Governo apresentou em sede de PEC eram manifestamente insuficientes e deviam ser reformuladas.
O PSD reafirma a necessidade de um Orçamento Rectificativo ao PEC?
O PSD já afirmou essa necessidade e, infelizmente, as últimas notícias confirmam que há algum irrealismo quer no Orçamento do Estado quer no PEC, e isso deve ser rectificado.
Foi um encontro apenas pontual ou uma aproximação para um Bloco Central?
Nem uma coisa nem outra. Não é um encontro pontual porque foi afirmado pelo presidente do PSD e pelo primeiro-ministro que a ideia é que possa haver um trabalho continuado com encontros sistemáticos, mas também não se pode inferir que haja qualquer acordo de regime nem qualquer acordo de coligação. Há divergências óbvias entre o PS e o PSD, mas a situação do país impõe que se coloque o interesse nacional acima de qualquer outro.