Vinte e cinco anos depois, que se assinalam amanhã, sábado, a maioria dos eurodeputados considera que valeu a pena a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. Há, porém, quem faça um balanço negativo.
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As comemorações do 25.º aniversário da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE - que só entraria em vigor a 1 de Janeiro de 1986 -, começam hoje, no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa. O facto de os eurodeputados sociais-democratas não terem sido convidados para as cerimónias de amanhã originou um protesto do PSD junto de José Sócrates.
Fonte parlamentar portuguesa afirmou, em declarações à Lusa, que, à excepção de Edite Estrela, nenhum deputado ao Parlamento Europeu recebeu convite para participar na cerimónia, onde estarão presentes, entre outros, os presidentes da Comissão Europeia, Durão Barroso, e do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek.
"A União Europeia deu-nos o projecto, a ambição e a esperança que o fim do império nos tirou. E, mais do que isso, pôs-nos no centro do desenvolvimento mundial. Isso é muito mais do que a soma dos fundos e que o rosário de imposições", defende o social-democrata Paulo Rangel.
"Nos últimos 25 anos, Portugal mudou muito e, quase sempre, para melhor", diz, por seu lado, a socialista Edite Estrela. E dá exemplos, como a socialização da educação e da cultura, o reconhecimento dos direitos das crianças e dos idosos e o combate às discriminações.
Desigualdades aumentam
O eurodeputado do CDS-PP Nuno Melo acrescenta que "dificilmente se conceberia um Portugal competitivo, sem integração no essencial dessa Europa, de pleno direito, beneficiando do mercado e da massa crítica".
Em contraponto, a comunista Ilda Figueiredo não tem qualquer dúvida em fazer um balanço negativo: "Hoje, para milhões de portugueses, o sentimento relativamente à adesão à UE é de uma amarga desilusão".
Sob o ponto de vista social, Portugal vive uma grave crise, com o desemprego a crescer permanentemente", salienta Ilda Figueiredo, considerando ainda que "o mesmo se passa com a pobreza e a desigualdade na distribuição dos rendimentos, onde Portugal tem a pior situação da Zona Euro".
Nuno Melo assinala que, como contrapartida do investimento "prioritário em grandes infra-estruturas (...) alguns governos (...) têm negligenciado fortemente o país produtivo", com especial destaque para a agricultura e pescas.
Ilda Figueiredo faz, neste ponto, um curioso coro com o democrata-cristão: "Estamos mais dependentes economicamente, com a destruição de parte do nosso aparelho produtivo em diversos sectores da indústria, da agricultura e das pescas, o que se reflecte no agravamento do desemprego".
Já Edite Estrela sublinha que "melhorou-se a rede viária e construíram-se novos equipamentos culturais, educativos, desportivos e sociais".
E destaca que "os desafios do presente exigem, mais do que nunca, lideranças fortes e corajosas, capazes de decidir em tempo útil e sem se deixarem condicionar pelos interesses nacionais. Tudo isto é verdade. Mas também é verdade que a presente crise global veio demonstrar que a união faz a força e que é melhor estar dentro que fora, seja da UE seja da Zona Euro".
Para Nuno Melo, "os tempos que se seguem são igualmente de oportunidade. Na renegociação da Política Agrícola Comum (PAC), na aposta no mar, como desígnio estratégico nacional, e no apoio às micro, pequenas e médias empresas, que deverão ser o verdadeiro garante da criação de riqueza e emprego em Portugal. Porque, seguramente, só com TGV e aeroportos não vamos lá".
Mas Ilda Figueiredo sublinha uma "triste realidade" - exemplificada com a elevada taxa de desemprego e as desigualdades sociais, entre outros factores, como o "resultado de uma integração capitalista que apenas serviu interesses de grupos económicos e financeiros e das elites que lhes estão associadas".
A adesão à então Comunidade Económica Europeia foi "tremendamente importante" para Portugal, qualifica o embaixador britânico em Lisboa na altura, Sir Hugh Campbell-Byatt. "Foi tremendamente importante para Portugal e hoje tem um presidente da União Europeia", disse.