A porta-voz do BE, Catarina Martins, afirmou que o primeiro-ministro se encontra sem "condições políticas objetivas para ocupar o cargo" devido à polémica da sua carreira contributiva, mas Pedro Passos Coelho considerou ter cumprido as suas obrigações.
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"Quatro anos depois de pedir tudo a quem tem tão pouco, não pode pedir ao país que compreenda os seus incumprimentos. O discurso moralista que tem feito do 'viver acima das possibilidades' é um tiro certeiro do primeiro-ministro em Pedro Passos Coelho", afirmou a deputada bloquista, classificando o "comportamento" do líder do executivo como "um convite público ao não cumprimento das mais básicas obrigações dos cidadãos", concluindo que não existem "condições políticas objetivas para ocupar o cargo".
Catarina Martins falava no debate quinzenal na Assembleia da República, dominado pela polémica relacionada com os pagamentos atrasados do primeiro-ministro à Segurança Social e ao Fisco, já depois de Passos Coelho ter esgotado o tempo de réplica e exibir declarações de não dívida ao Estado, bem como uma resposta dos serviços atestando não persistir "rigorosamente nenhuma dívida" em seu nome ou ter havido qualquer benefício de um "regime particular não aplicável à generalidade dos trabalhadores independentes em iguais circunstâncias".
"Pagar as suas obrigações é também pagar na hora devida, não é mais tarde. Há pessoas que trabalham a recibo verde que não conseguem pagar essas contribuições, mas, como não são primeiro-ministro, também não conseguem pagar mais tarde esses anos todos. Comprou anos de reforma, mas não foi solidário com reformas atuais. Negou essa obrigação básica cidadã da construção inter-geracional da construção da Segurança Social. Não estamos a perguntar se diz bom dia ao vizinho ou se separa lixo para reciclagem...", tinha ironizado a dirigente do BE.
"Não argumentei, não pus advogado a tratar do assunto, não procurei encontrar escapatórias, liquidei o que tinha a liquidar, não espero que ninguém me agradeça, cumpri aquilo que são as minhas obrigações", assegurou o chefe de Governo da maioria PSD/CDS-PP.
Passos Coelho afirmou rever-se "inteiramente" numa longa citação inicial de declarações suas por parte de Catarina Martins, reafirmando que gosta de pagar o que deve.
"Não posso corroborar o seu juízo de intenção. Se eu não quisesse pagar, atendendo que a Segurança Social não me podia exigir, eu não o teria feito. Bastava para isso invocar a prescrição", reforçara já o primeiro-ministro, acrescentando ter dado todas as justificações anteriormente, por escrito, e nas respostas a outros grupos parlamentares.
Para Catarina Martins, o líder do executivo "acreditou que a Segurança Social era uma espécie de brinde para os recibos verdes", pois "preencheu cinco modelos B da declaração do IRS, com aquela caixinha que diz contribuições obrigatórias para a Segurança Social".
"Passou três anos a chamar batoteiro a quem paga atrasado e a chamar ónus para a sociedade [a essas pessoas] e esteve mais três anos a ser batoteiro e a ser esse ónus", acusara ainda a parlamentar bloquista.