<p>O deputado do BE Jorge Costa acusou hoje, quinta-feira, o primeiro-ministro, José Sócrates, de ter faltado à verdade no Parlamento em 2008 ao negar a existência de consultas sobre a transferência de presos de Guantánamo.</p>
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"O Governo já teve de dar explicações algumas vezes e é provável que tenha de as dar algumas vezes mais, porque as informações que vêm a público, cada vez que aparecem, reforçam que o que disse o primeiro-ministro no Parlamento não era verdade", declarou Jorge Costa aos jornalistas, no Parlamento.
O deputado do BE começou por dizer que, "por mais voltas que dê o ministro Luís Amado, factos são factos, e em 2006 o Governo português esteve em consultas directas com o governo norte-americano sobre a transferência de presos de Guantánamo através de território português em voos organizados pelo governo norte-americano".
"Dois anos depois, em 2008, o primeiro-ministro afirmou aqui no Parlamento, à vista de todos os deputados e do país, que essas consultas nunca teriam existido no sentido de transferências de presos de Guantánamo", referiu Jorge Costa.
"Não bate a bota com a perdigota", concluiu o deputado do BE, acrescentando que "a versão que o primeiro ministro apresentou no Parlamento aos portugueses não coincide com aquilo que agora é dito, seja pelo ministro [Luís Amado], seja comprovadamente pelos telegramas da embaixada norte-americana".
Questionado sobre o que vai fazer o BE, Jorge Costa respondeu: "Nós vamos aguardar que venham a público mais informações".
"De cada vez que sai um telegrama, o Governo tem de dar explicações e é provável que tenha de dar no futuro mais explicações, porque as versões do Governo nesta matéria não coincidem com os factos que vêm a público através dos documentos de Washington", considerou.
A edição de hoje do jornal espanhol El País cita telegramas diplomáticos divulgados pelo portal Wikileaks, segundo os quais o primeiro-ministro, José Sócrates e o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, autorizaram que voos de repatriamento de prisioneiros de Guantánamo sobrevoassem o espaço aéreo português ou fizessem escala nas Lajes, nos Açores - informação que já foi negada oficialmente pelo gabinete de José Sócrates e pelo ministro Luís Amado.
Em causa estão cinco telegramas enviados da Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, entre 2006 e 2009, que, de acordo com o diário espanhol, dão conta de "pressões" de Washington sobre o Governo português neste tema e da "cautela" com que o executivo atuou para autorizar aqueles voos.