Bloco diz que carta de Seguro só é coerente com pedido de reestruturação da dívida
O coordenador bloquista João Semedo disse, esta segunda-feira, "não desvalorizar" o conteúdo da carta que o secretário-geral do PS dirigiu à 'troika', mas defendeu que "esse passo não tem coerência" se não for acompanhado de uma reclamação de reestruturação da dívida.
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"O PS demorou quase dois anos a compreender que a receita da 'troika' não resolve os problemas do país, mais vale tarde do que nunca, mas é preciso ser consequente e coerente", afirmou João Semedo.
O líder do BE falava aos jornalistas no final de um encontro com membros da Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida, depois de questionado sobre a carta enviada por António José Seguro à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu [BCE] e ao Fundo Monetário Internacional [FMI].
Na missiva, o secretário-geral socialista pede que na sétima avaliação do programa de resgate, prestes a começar, sejam enviados a Portugal "responsáveis políticos" e afirma que "os portugueses não aguentam mais" e que o país está "à beira de uma tragédia social".
Para o BE, não basta dizer "que chega de memorando e de 'troika' e "é preciso mudar de página e de política".
"Nós não desvalorizamos esse passo que António José Seguro deu, mas o que dizemos é que é um passo que não tem coerência se não for acompanhado de uma reclamação política de reestruturação da dívida", disse.
"Não basta prolongar os prazos de pagamento, é necessário reestruturar a dívida e baixar o valor dos juros, sem reestruturação da dívida, o calvário dos portugueses vai continuar", advogou João Semedo.
Segundo o líder do BE, o país "não tem condições de pagar uma dívida cujos juros e cujo montante o asfixia completamente" e esta não pode "exceder os 60% do PIB".
"É esse o nível de dívida que o país suporta e é essa renegociação que é urgente fazer com os credores internacionais", apontou.
O coordenador bloquista sustentou que o país não tem "economia suficiente para libertar recursos para pagar a dívida" que existe.
"Todos os recursos nacionais estão hoje presos ao pagamento de juros e de uma dívida, todas as poupanças da economia, do Estado, das famílias, são canalizadas não para financiar a economia, não para financiar o Estado, não para garantir o Estado social, o SNS, a escola pública, nem direitos sociais, mas para pagar juros", observou.