<p>No partido que apoia o Governo, não é esperada uma alocução crítica, mas de esperança. Na maior força política da Oposição, admite-se que Cavaco dê hoje, domingo, um sinal sobre a falta de transparência e faça o elogio das virtudes éticas do regime republicano.</p>
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Num regime em que o chefe de Estado não governa, nem dispõe de direito de veto definitivo, os discursos são a forma de fazer chegar ao povo o que pensa o presidente da República.
Em ano de revisão constitucional ordinária, será de esperar que, no último discurso do mandato numa sessão solene comemorativa do 25 de Abril, Cavaco aluda a esse processo, cuja abertura imediata foi reclamada pelo novo líder do PSD, Pedro Passos Coelho há duas semanas, em Carcavelos?
Jorge Bacelar Gouveia, do PSD, considera que o Presidente "terá toda a liberdade para o fazer, uma vez que se trata de uma revisão ordinária, como tal previsível e que está em curso. Ressalva, porém, o facto de já ter dito publicamente "que se trata de um assunto que diz respeito à AR e sobre o qual não gostaria de fazer nenhum comentário".
O constitucionalista social-democrata nota que a celebração do 25 de Abril tem este ano a particularidade de coincidir com o centenário da República. "Nesse sentido, não tendo sido uma revolução republicana, o 25 de Abril apelou ao regresso dos valores éticos e das virtudes cívicas do republicanismo". Um mote, considera, quase incontornável para o chefe de Estado poder aludir - sem constranger ninguém - ao dever de lealdade para com as instituições da res publica. Reparo que agradaria ao PSD. Sobretudo, justifica Bacelar Gouveia, "quando a opinião pública está profundamente entristecida com um conjunto de insucessos relativamente aos deveres de ética de transparência".
Também o socialista Vitalino Canas considera "altamente improvável" - "até ficaria bastante surpreendido" - que Cavaco fale da revisão constitucional. Primeiro, "porque só intervém na sua promulgação", tendo no processo "um papel mínimo e formal". Depois, porque "não estão em causa os poderes presidenciais".
"O discurso presidencial do 25 de Abril costuma ser amplo. Já foi sobre a participação dos jovens na política, a justiça e a cidadania", recorda Vitalino. São "sempre menos de crítica e mais virados para o futuro, a modernização, o optimismo e as potencialidades do país, pelo que apostaria que não focará questões de política interna imediata".