António Costa colocou a fasquia elevada: o debate quinzenal no Parlamento seria a última oportunidade para o primeiro-ministro se explicar. Ontem, em entrevista à RTP1, o líder socialista defendeu que "quanto mais o primeiro-ministro diz, menos esclarece", dando - porém - este caso por "esclarecido".
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Para o socialista, a polémica está "nas mãos dos portugueses". "Tenho a convicção profunda que os portugueses perceberam tudo o que se passou e agirão em conformidade", disse Costa, invocando ser de forma "quase visceral" contra "a política de casos", para justificar porque motivo não pediu a demissão do Governo.
Repreendido por Manuel Alegre, por não ter sabido reagir atempadamente, exigindo a saída de Passos Costa considerou, ontem, que aquilo que "sugeriu" o seu "amigo" histórico é "um ato de consciência do primeiro-ministro". "A exemplo, aliás, do que muitos políticos têm feito", frisou.
E os chineses?
Apesar de nesta entrevista não se ter desfeito o tabu que alimenta desde que chegou à liderança do partido - quando abandonará a Câmara de Lisboa para se dedicar a uma pré-campanha que se antevê difícil -, o socialista anunciou para 6 de junho a apresentação do programa de Governo.
"Não se corre uma maratona como se correm 100 metros", respondeu, perante as críticas pela morosidade em fazê-lo.
"O futuro de Portugal não está em voltarmos a ter salários de miséria, mas em mobilizar esta nova geração, muito qualificada, para modernizar as nossas empresas, o valor dos produtos e os serviços que prestamos", explicou, mostrando-se um pouco titubeante inicialmente, de cada vez que abordou números.
Segundo Costa "o Governo quis ir além da troika e, entre o que aumentou nos impostos e o que fez de cortes, fomos mais seis mil milhões para lá do que era necessário".
"Comparando com os rendimentos em 2009, temos mais 25% de pobreza", alegou, para admitir que não se expressou de "de forma correta" sobre o estado do país, no encontro com empresários chineses.
"Também ninguém tem dúvidas de que faço oposição ao Governo", concluiu sobre esse incidente, que levou à desvinculação do fundador do PS Alfredo Barroso.
Já quanto à detenção do "camarada e amigo" José Sócrates, Costa garantiu respeitar "a separação de poderes, o funcionamento do sistema de Justiça e a garantia de presunção de inocência".