A liderança política em Portugal tem de estar aberta a debater alterações profundas ao Estado Social e mesmo a saída do euro, caso contrário arrisca-se a um crescimento anémico, considerou esta segunda-feira o analista político Marian Tupy.
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O especialista do Legatum Institute, em Londres, falava à Lusa à margem do Estoril Political Forum, que decorre até quarta-feira no Estoril.
"Qualquer liderança política neste país tem de começar a debater quanto é que o Estado realmente faz numa sociedade. Temos mesmo que pagar por estas coisas todas, ou pagamos menos e começamos a reduzir a dívida?", questionou o analista político.
"No que toca ao euro, já houve um tempo antes do euro e haverá um tempo depois do euro. Há países dentro da União Europeia que não têm moeda única e que são prósperos e outros fora da União que estão a prosperar", apontou.
Questionado sobre se sair do euro é uma perspectiva realista para Portugal, o analista político foi taxativo: "Hipótese para Portugal? Claramente sim, é uma possibilidade para qualquer país, o importante é que as lideranças políticas tenham a visão e a coragem de tomar estas decisões difíceis".
"A minha visão é que não deve haver 'vacas sagradas'. O governo deve fazer o que for melhor, e a moeda única europeia não é uma vaca sagrada, tal como não é o estado social como vocês o entendem em Portugal. Tudo tem de estar aberto para debate, ou vão sofrer com crescimento baixo para sempre", disse Tupy, que também é analista político no Center for Global Liberty and Prosperity.
Marian Tupy é especialista em política económica da Europa e da África sub-saariana, além de ser colaborador de opinião no Wall Street Journal Europa.
O especialista explicou na sua apresentação no Forum do Estoril a correlação entre a dívida pública, o crescimento económico e o rendimento das populações.
"A investigação económica mostra-nos que quando temos uma dívida pública de ou acima dos 90% do PIB por muito tempo, o crescimento económico ressente-se. Dois académicos nos Estados Unidos descobriram que países com dívida acima dos 90% crescem a 1,7%e os que têm a dívida nos cerca de 30% crescem a 3,7%", disse Tupy.
"Ao longo de uma geração, cerca de 25 anos, estas duas taxas de crescimento diferentes têm resultados dramaticamente diferentes. Se uma economia cresce a 3,7% o rendimento das pessoas após 25 anos será 100% superior ao das pessoas do país que cresce a 1,7%", acrescentou o analista.
Actualmente, Portugal é um dos países com uma dívida pública acima de 90%.
"Por outras palavras, Portugal precisa de aumentar o seu crescimento, para que a sua população se torne mais rica no futuro. E uma das formas de aumentar o crescimento em Portugal é reduzir consideravelmente a dívida", explicou.