
Representantes do Citigroup foram recebidos em S. Bento por assessores de José Sócrates
Leonardo Negrão/Global Imagens
Os assessores económicos de Sócrates acharam "normais" os swaps, que confirmaram terem sido apresentados por Pais Jorge, mas remeteram a decisão final para o Ministério das Finanças, que os rejeitou.
Só ao fim de vários dias de polémica, que levaram à demissão do secretário de Estado do Tesouro, é que os assessores económicos de José Sócrates quebraram o silêncio público e confirmaram que Joaquim Pais Jorge foi um dos elementos do Citigroup que, em 2005, propuseram ao Governo a celebração de contratos swap.
Vítor Escaria, independente, e Óscar Gaspar, atual dirigente do Partido Socialista e conselheiro de António José Seguro para os assuntos económicos, reagiram à divulgação por parte do Governo de documentos do dossiê swap, que incluem o parecer que ambos assinaram sobre os contratos propostos pelo Citigroup e também pelo Barclays.
Sócrates não sabia
Nesse parecer, os dois assessores admitem que essas operações "não configuram medidas extraordinárias e que se inserem nas estratégias normais de redução de risco e melhoria da performance da gestão da dívida pública", mas não se comprometem.
E, "seguindo o procedimento habitual, foram encaminhadas para conhecimento e apreciação do ministério relevante, sem nenhum tipo de recomendação, arquivando-se cópia no gabinete do primeiro-ministro". Remeteram o assunto para o Ministério das Finanças.
O ministério tutelado por Teixeira dos Santos, por sua vez, enviou a documentação ao Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP), que viria a dar um parecer negativo, curiosamente assinado por Franquelim Alves, o ex--secretário de Estado que teve ligações ao BPN e que na época presidia ao IGCP. E os contratos nunca se concretizaram, tal como já acontecera no ano anterior com outras propostas também apresentadas pelo Citigroup.
Fora deste processo terá estado José Sócrates. Segundo os ex-assessores, essas ideias "nunca foram sequer levadas ao conhecimento do primeiro-ministro".
Documentos sem nomes
Além de tentar divulgar o documento com o parecer dos assessores de Sócrates, o Governo fez chegar às redações, ao fim da tarde de ontem, cópias dos documentos que constam nos arquivos informáticos do gabinete do primeiro-ministro e do Ministério das Finanças sobre as propostas de contratos swap feitas ao Executivo de Sócrates, em 2005.
Com essa divulgação, fonte do Executivo quis garantir que nesse processo não há registo dos nomes dos responsáveis pela apresentação, nem do organograma da direção do Citigroup.
Numa primeira fase, Pais Jorge começou por dizer que não sabia se tinha participado nessas reuniões, representando o Citigroup, mas acabaria por reconhecer que esteve em S. Bento. A seguir demitiu-se. v
Pais Jorge "bem-vindo" na Estradas de Portugal
"O senhor ex-secretário de Estado do Tesouro é um quadro de altíssima qualidade da Estradas de Portugal e terei muito gosto em recebê-lo". As palavras são do presidente da empresa Estradas de Portugal, citado pela Antena 1 e TSF. Entre 2009 e 2012, Joaquim Pais Jorge esteve à frente da direção financeira da Estradas de Portugal e foi nesse cargo que terá negociado, segundo revelou Marques Mendes, na SIC, contratos de parcerias público privadas (PPP) na área rodoviária.
Antigo gestor do Citigroup assume apresentação
A presença de Joaquim Pais Jorge em S. Bento na apresentação das propostas de swaps acabaria por ser confirmada pelo próprio depois de a ter negado, mas Paulo Gray, antigo gestor do Citi, assume a "responsabilidade" de ter feitos as propostas, embora com o secretário de Estado demissionário a seu lado. "Provavelmente terei sido eu a fazer mais a apresentação", afirmou à RTP. "A responsabilidade de áreas de mercados era sempre mais de equipas de Londres e minha aqui em Portugal", acrescentou.
