A líder do PSD considerou hoje, quinta-feira, que o primeiro-ministro "tem a obrigação" de esclarecer o país e os partidos que se apresentam nas próximas eleições legislativas sobre os números previstos do défice no final de 2009.
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Manuela Ferreira Leite, que falava no final da última sessão do "Fórum Portugal de Verdade", desta vez sobre agricultura, defendeu que se José Sócrates não o fizer estará a incorrer numa "falha grave em democracia".
"O primeiro-ministro tem a obrigação, perante o país e a oposição, de esclarecer qual é o montante do défice que ele considera e prevê até ao final do ano (...) tem a obrigação porque vamos entrar num momento eleitoral e os diferentes partidos se quiserem ser sérios e honestos nas propostas que fazem aos portugueses têm que saber aquilo que vão encontrar quando assumirem as suas funções e para fazerem propostas credíveis e realistas, não serem simplesmente anúncios", disse.
Caso o chefe de Governo não o faça, salientou, cometerá "uma falha grave em democracia" já que "as oposições querem ser sérias" e, para o ser, necessitam das "bases de informação" que "o Governo dispõe".
"É ele [o primeiro-ministro] que tem os números na mão e sabe o que fez e aquilo que propõe fazer, os encargos que estão assumidos até ao final do ano, qual a perspectiva do dia 31 de Dezembro de 2009", salientou.
Manuela Ferreira Leite voltou, por isso, a insistir na necessidade de a maioria parlamentar e o Governo não obstruírem o pedido do PSD para que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) do Parlamento análise as contas públicas deste ano.
"Não há nenhum Governo que tenha o direito de interferir naquilo que são competências da Assembleia da República. A Assembleia da República é soberana e sabe que essa comissão foi criada com esse objectivo. Ao Governo não lhe compete dizer se concorda ou não, vamos ver como se comporta o PS no Parlamento", afirmou.
Afirmando querer fazer política "de forma diferente", a líder social-democrata acrescentou: "Estão todos muito interessados em saber quais são as propostas eleitorais, mas não está ninguém interessado em que as propostas eleitorais sejam sérias, credíveis e não simples anúncios e promessas que não são nunca para executar".
"Eu quero fazer política de forma diferente, quero prometer aos portugueses com verdade apenas aquilo que consigo fazer, aquilo que é exequível, mas não me deixam porque não me dão qualquer tipo de elementos. E quando eu os peço não mos dão como se eu estivesse a pedir alguma coisa a que não tenho direito, como se o Governo não tivesse a obrigação estrita de o fazer", exclamou.
E acrescentou: "É absolutamente extraordinário a situação a que se chegou em Portugal na forma de fazer política. É lamentável e quando se tenta lutar contra isso é muito difícil. Espero que o primeiro-ministro pondere naquilo que está a fazer e que efectivamente, no mínimo, não impeça que a AR trabalhe".
"Como candidata a primeira-ministra tenho o direito de saber o que me espera quando lá chegar. É só isso que eu peço", reiterou.
Manuela Ferreira Leite disse, apesar de tudo, não ter "nenhuma suspeição" de partida em relação às contas apresentadas pelo Governo relativamente ao défice das contas públicas.
A suspeita, acrescentou, "decorre do facto de [o Governo] não querer dar resposta" àquilo lhe é perguntado nesta matéria.
"Quando se nega essa projecção é que eu suspeito porque é que não se quer fazer isso", comentou.
No final do último Fórum Portugal de Verdade, a líder do PSD declarou que disse ter agora disponível "aquilo que é a verdade sobre o país", a "situação em que se encontram os diferentes sectores" e "a verdade das medidas e propostas que possam ser feitas com realismo.
"Reunimos os elementos necessários para estarmos em condições de propor aos portugueses aquilo que corresponde à realidade e que é possível fazer no curto e médio prazo", declarou.
A direcção social-democrata agendou para Junho e Julho uma segunda ronda de sessões temáticas do seu "Fórum Portugal de Verdade", desta vez à porta fechada, das quais se comprometeu a retirar conclusões para o seu programa eleitoral.
O programa eleitoral do PSD deverá estar concluído até ao final de Julho.