O coordenador do BE, Francisco Louçã, comunicou, esta quinta-feira, o fim do seu mandato como deputado, função que ocupou durante 13 anos, mas diz que continuará na vida política com "a mesma dedicação".
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"Saio do Parlamento por uma razão e por mais nenhuma, entendo, para mim próprio, que o princípio republicano marca limites à representação que tenho desempenhado e exige a simplicidade de reconhecer que essa responsabilidade deve ser exercida com contenção. Ao fim de 13 anos, reclamo a liberdade de influenciar o meu tempo, é agora o momento de uma renovação que fará um Bloco mais forte", declarou Francisco Louçã aos jornalistas, tal como escreveu na carta aberta assinada e dirigida à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
O ainda coordenador bloquista, que também não se recandidatará a essas funções na próxima Convenção do partido, garante que continuará a sua "vida política com os mesmos valores e com a mesma dedicação ao Bloco de Esquerda e à luta sem tréguas pela justiça social".
Contra o "populismo antiparlamentar"
O líder do BE afirmou, na sua despedida como deputado, que os que fazem "demagogia" com o "populismo antiparlamentar" terão sempre a sua "frontal condenação" e disse ter convivido no Parlamento com "alguns homens e mulheres extraordinários".
Francisco Louçã salienta que deixa o Parlamento "exatamente" como entrou: "Com a minha profissão, sem qualquer subsídio e sem qualquer reforma".
"Quero aliás deixar cristalinamente claro, especialmente hoje, que não faço qualquer cedência ao populismo antiparlamentar, os partidos e personalidades que esperam obter ganhos com essa demagogia terão sempre a minha frontal condenação", refere o líder bloquista.
O fundador do BE faz questão ainda de dizer a sua "verdade" a este respeito. "Também no Parlamento encontrei alguns homens e mulheres extraordinários e respeito muito os adversários que sejam fiéis ao seu programa. E, por isso mesmo, reafirmo-vos convictamente, contra todo o populismo, que é um crime antidemocrático deixar diminuir ou deixar corroer o pluralismo político", adverte.
"Ao longo destes 13 anos, fui eleito cinco vezes e enfrentei cinco primeiros-ministros. Disse-lhes o que lhes tinha para dizer, em nome de muita gente, fiz 1012 intervenções em plenário e os meus amigos lembrar-se-ão de algumas. Espero que os meus adversários também se lembrem", referiu.
"Criar pontes e caminhos novos"
"Se me perguntam o que farei a partir de hoje, quero responder-vos com toda a clareza: dedicarei o que sei e o que posso à luta por um governo de esquerda contra a "troika' e, para isso, ao esforço de criar pontes e caminhos novos, de juntar competências, de ajudar a levantar a força deste povo", assegura Louçã.
O líder do BE insiste que é preciso um governo de esquerda "para romper com o memorando e para defender Portugal, o Portugal do trabalhador e do contribuinte, de quem luta pelo seu povo e não aceita a humilhação da guerra infinita contra os salários e as pensões".
"Contribuirei intensamente para isso, porque para lá chegar é preciso convicção e uma paciência impaciente que nunca desiste. Nunca desisto nem me canso disso, que é o essencial", garante Francisco Louçã.
O bloquista, catedrático em economia e professor no ISEG, diz ter vivido "com intensidade cada momento desta luta parlamentar, essencial para uma esquerda coerente" e deixou um agradecimento a todos os seus colegas de bancada. "Agradeço a todas as deputadas e deputados do Bloco de Esquerda a força incessante que trazem a este confronto e tudo o que me ensinaram, e mais ainda o que vão continuar a fazer contra a política cínica do empobrecimento", disse.
Projetos do BE "mudaram a vida de muita gente"
"Nunca deixei de votar de acordo com a minha consciência, cumpri todos os meus compromissos com os eleitores. Apresentei, com o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, 606 projetos de lei", destacou o fundador do partido.
E recordou algumas das "vitórias" legislativas do partido no Parlamento, que "mudaram a vida de muita gente e a cultura do país inteiro" e que fazem Portugal "respirar melhor".
"Nestes anos começou a despenalização dos toxicodependentes, foram protegidas as mulheres que decidiram abortar, atacada a violência doméstica, avançou-se no difícil caminho da responsabilidade fiscal e da luta contra a corrupção, ergueu-se uma força contra a pirataria financeira, os jovens precários começaram a ter voz, os serviços públicos ganharam mais expressão na democracia, aproximamo-nos da paridade entre homens e mulheres nas eleições, reconheceu-se legalmente o casamento 'gay', houve empenho solidário contra o terror das guerras", enumerou.
No final, o fundador do BE deixou um apelo "a todos os amigos": "Adiram ao Bloco de Esquerda. Agora, que é preciso força. Agora, que é preciso atitude. Agora, que é preciso imaginação. Agora, que é preciso querer vencer. Aí estaremos, todos, como sempre, com a mesma força da vida".