Governador do Banco de Portugal critica "visão de muito curto prazo" de Estado e empresas
O governador do Banco de Portugal criticou, esta sexta-feira, "a visão de muito curto prazo em matéria de dívida" tanto do Estado como das empresas, que optaram sempre por maturidades demasiado curtas e olharam para a crise como temporária.
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"Não posso deixar de me espantar com o facto de nós termos olhado para a crise como uma crise muito temporária. Só isso é que explica que haja no perfil da dívida pública uma concentração de vencimentos em 2011 e 2012", como a que existe, sublinhou Carlos Costa, numa apresentação no 4º Congresso dos Economistas Portugueses.
O governador do banco central explicou que no período que antecedeu a entrada no BdP era responsável pela parte financeira do Banco Europeu de Investimentos e também ele sentia a pressão dos seus colegas para procurar financiamento de curto prazo. "Éramos triplo A [rating máximo de notação da dívida], no curto prazo ficávamos com muitos pontos base abaixo da Euribor. Eu tive que me bater para manter uma duração média de oito anos e meio", contou.
Em Portugal não houve essa preocupação. "Tínhamos que saber que a crise implicava uma nova normalidade completamente diferente", afirmou o governador. "Houve uma visão de muito curto prazo em matéria de dívida, tanto das empresas como dos restantes agentes económicos" em relação ao endividamento, rematou Carlos Costa.
Ainda em relação à dívida, o responsável lamentou que o programa de ajustamento em que o país se encontra envolvido não tivesse sido iniciado, voluntariamente, "quatro anos" mais cedo.
"O ajustamento era inevitável, a crise financeira internacional limitou-se a precipitar a sua necessidade, em condições mais adversas. Tivéssemos feito o ajustamento quatro anos mais cedo e teríamos o mercado financeiro a dar-nos oportunidade de ajustar as maturidades da dívida por nós próprios", lamentou.
"Tivesse a dívida portuguesa sido reescalonada voluntariamente por substituição e alargamento de maturidades, estaríamos hoje a pagar [pelo serviço da dívida] muito menos do que estamos, embora fôssemos pagar mais do que aquilo que se exigia na altura e que eram as expectativas", concluiu.