O antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, esta segunda-feira, que ninguém deve governar a pensar na popularidade, mas isso não deve ser desculpa para não explicar "suficientemente" as medidas que se tomam, sobretudo num momento de crise.
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"Ninguém governa ou deve governar à procura de popularidade. Há coisas que é preciso fazer independentemente de se gostar ou não. Outra coisa, na situação do país, é preciso que os portugueses se mobilizem para enfrentar a crise e há medidas que têm maior ou menor adesão conforme sejam assumidas, entendidas, explicadas e depois assumidas pela opinião pública. E aí o Governo tem uma certa obrigação de esclarecimento", afirmou Rebelo de Sousa.
O ex-líder do PSD comentava aos jornalistas, em Lisboa, o discurso do primeiro-ministro no encerramento do congresso do PSD/Madeira, no domingo, em que Pedro Passos Coelho afirmou que não tem "nenhum problema em enfrentar a impopularidade" causada pelas medidas de austeridade.
"O Governo faz bem em não governar para a popularidade, mas o Governo faz mal se com a invocação de que não governa para a popularidade não explica aos portugueses, não esclarece os portugueses suficientemente e não os mobiliza para um combate para o qual é fundamental que estejam mobilizados", destacou Marcelo Rebelo de Sousa.
Sobre as declarações de Passos Coelho relacionadas com a impossibilidade de revisão constitucional, Rebelo de Sousa considerou que o primeiro-ministro disse "o óbvio", ou seja, "o PS não quer, não há, não vale a pena perder tempo com isso".
O antigo presidente do PSD falava aos jornalistas à margem da apresentação do livro "Marcello Caetano - uma biografia política", de José Manuel Tavares Castilho, editado pela Almedina.
Rebelo de Sousa, que apresentou a obra, considerou-a "uma biografia muito curiosa" e "original" por ser feita com base nos escritos de Marcello Caetano.
"A coisa mais inédita" deste trabalho, acrescentou, é concluir que a "culpa, a responsabilidade principal" do fracasso do Governo de Marcello Caetano, o ditador que sucedeu a Salazar em 1968 e foi derrubado com o golpe do 25 de abril de 1974, foi do então Presidente da República, Américo Tomaz.
"O que é uma tese nova. Américo Tomaz tinha a faca e queijo na mão, Marcelo Caetano pediu a demissão várias vezes, sentiu que não era capaz, e Américo Tomaz, podendo decidir e devendo decidir, nunca quis assumir essa responsabilidade", afirmou Rebelo de Sousa.
O também professor universitário insistiu em que "quem mandava era o Presidente da República" e que Américo Tomaz assumiu mais tarde, nas suas memórias, que "não gostava do que ele [Marcello caetano] estava a fazer".
"Não gostava mas também não fez nada para mudar o rumo dos acontecimentos. Esta perspetiva é nova", afirmou.
Já durante a apresentação do livro, Rebelo de Sousa afirmou que esta obra revela novas dimensões de Marcello Caetano, que após o 25 de Abril passou à história como "o mau da fita" para a esquerda, para a direita reformista e para a direita salazarista, que o consideraram um "homem cinzento", que se "isolou".
Sobre este aspeto, Rebelo de Sousa afirmou que de facto Caetano "acabou sozinho", mas na política "nunca ninguém cai acompanhado".