A equipa do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa a investigar os casos de cegueira no Hospital de Santa Maria é "especializada em crimes de negligência médica", disse hoje, quinta-feira, a directora do organismo.
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À margem da inauguração da nova sala multioperacional do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) em Lisboa, Maria José Morgado informou os jornalistas que os casos de reacção adversa após um tratamento oftalmológico envolvem "investigadores especializados em crimes de negligência médica e com procuradores e uma procuradora responsável com grande experiência na matéria, que sabem trabalhar de forma pluridisciplinar".
Seis doentes ficaram cegos depois de terem sido operados devido a uma degeneração macular associada à idade, a 17 de Julho, pela mesma equipa, no serviço de Oftalmologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
"Estes fenómenos só podem ser investigados de forma pluridisciplinar, com o apoio de equipas médicas e do Instituto Nacional de Medicina Legal, do Infarmed e dos especialistas na matéria. E em coordenação também com a polícia, se for o caso", disse Maria José Morgado.
A procuradora-geral adjunta escusou-se a comentar uma pergunta sobre o início das diligências sem serem conhecidas as conclusões da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, reforçando, porém, a colaboração com esta e outras entidades.
Já o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, começou por comentar o caso, colocando uma questão: "Quem é o cidadão que não fica preocupado com um casos desses?".
"Sempre que estão em causa pessoas, qualquer cidadão se preocupa. O que posso dizer é que desde o momento em que a senhora Dra. Maria José Morgado instaurou o inquérito foram já feitas inúmeras diligências. Tomara eu que a Justiça em Portugal andasse assim", disse.
O responsável máximo do Ministério Público admitiu a possibilidade de as diligências das diversas entidades se complementarem, incluindo as conclusões médicas.
"O DIAP vai reunir todos os elementos e depois tirar uma conclusão, se possível", acrescentou, garantindo não ter ficado surpreendido pela abertura de uma investigação judicial sem ter sido comunicada suspeita de crime.
"O DIAP e o Ministério Público existem para casos desses. Se houvesse crimes eram crimes públicos, não precisamos de participação nenhuma", afirmou.
O Ministério Público abriu terça-feira um inquérito-crime ao caso, tendo o processo sido distribuído à 6.ª secção do DIAP de Lisboa, que "é especializada na matéria", segundo explicou na altura a Procuradoria-Geral da República.
Além da investigação determinada pelo DIAP, estão em curso outras duas investigações ao caso: uma da responsabilidade da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), para verificar em termos laboratoriais o medicamento (Avastin) aplicado aos doentes, e outra da iniciativa da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), para apurar o que realmente se passou relativamente a este caso.