Maria Antónia Osório de Castro: "Vou fazer uma coisa para o bem dos filhos e de Portugal"
<p>Maria Antónia Osório de Castro tem as datas e as emoções à flor da pele. Sabe com exactidão o dia em que começou a namorar com Garcia dos Santos: 21 de Dezembro de 1957. Quando chegou a hora do 25 de Abril, o casamento já durava há 14 anos, e o então major jantou em casa, antes de vestir a farda e partir a passo apressado para o quartel da Pontinha, onde instalara o posto de comando do MFA.</p>
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"Disse-me: 'Vou fazer uma coisa para bem dos nossos filhos e de Portugal. Fica atenta à rádio, uma canção alentejana será o começo de tudo. Pode ser para o bem e para o mal'. Não me disse mais, mas eu andava desconfiada, porque, ao contrário do habitual, saía quase todas as noites para reuniões sobre as quais não falava. Ouvi a rádio e às seis da amanhã já estava a telefonar às minhas irmãs para não deixarem os filhos ir para a escola. Só a meio da tarde voltei a ouvir a voz do Amadeu, ao telefone. Estava bem".
O casamento tinha resistido à guerra, às comissões "muito difíceis" em África, à conspiração para derrubar a ditadura, mas não resistiu à mudança que a revolução trouxe ao quotidiano.
Após cinco anos de cargos públicos e ausências do militar, o divórcio transformou Maria Antónia, mãe de três filhos, numa mulher independente. Começou a trabalhar como professora de trabalhos oficinais, a pintar e escrever. "Libertação" é o título do livro de poesia que editará a 3 de Julho, o dia do seu 75º aniversário. "Está lá a minha história com o Amadeu. Podia ter sido outra, mas foi esta".
Maria Antónia faz questão de se considerar uma mulher "feliz, alegre e activa", orgulha-se do seu gosto pela escrita e de ser sobrinha-neta de Ana de Castro Osório, a escritora, feminista e activista republicana. Teve esperança na construção de uma sociedade mais justa e livre. Desilude-se com a falta de justiça.
A emoção leva-a ao passado, às árvores do jardim, onde o pai pendurava cerejas para os filhos se divertirem a colhê-las, e às férias em Pêro Pinheiro, quando o jovem Amadeu elogiou pela primeira vez a sua mousse de chocolate.