"Ossadas de Sá Carneiro devem andar às voltas no túmulo", diz Bispo das Forças Armadas
D. Januário Torgal Ferreira disse estar desconfiado das motivações para a apresentação das novas medidas de austeridade. O bispo das Forças Armadas disse que Sá Carneiro deve estar às voltas no túnel e deixou subentendida a ideia de que a austeridade é uma espécie de "terrorismo".
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"Se Sá Carneiro fosse vivo, já tinha caído para o lado. E não sei quantas voltas as suas ossadas não terão dado já no túmulo". O desabafo de D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, na ressaca das novas medidas de austeridade anunciadas, ontem, pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
"A mim, também me dava jeito um desvio colossal. Depois em Março alguém pagava", disse, desconfiado das razões que levaram à decisão pelas novas medidas de austeridade. "Nada é explicado. Fico com uma grave suspeita da verdade de tudo isto", acrescentou D. Januário Torgal Ferreira, em declarações à RTPi.
O corte do subsídio de Natal, em 2012 e 2013, a quem aufer mais de mil euros por mês. "Como é possível cortar os subsídios a quem ganha mil euros e ratar todos os funcionários públicos por igual. Os que ganham mais, deviam pagar mais", disse D. Januário Torgal Ferreira.
"A Igreja tem de respeitar a justiça e lutar pelos direitos humanos. Não pode acatar qualquer acto terrorista", disse o bispo das Forças Armadas, quando confrontado com uma pergunta sobre a posição da Igreja face ás novas medidas de austeridade. "Há vários tipos de terrorismo, o intelectual, o do medo", disse apenas, quando lhe foi perguntado se considerava estas medidas como terrorismo.
"Agora é assim? Em Fevereiro os reformados não vão receber. E em Março são os funcionários que ficam sem receber?", questionou. Mas o primeiro-ministro disse que lamentava ter de aplicar estas medidas, argumentou a jornalista da RTP. "Já vi muita gente a lamentar e depois ir assaltar um banco. Ou a abandonar a mulher e os filhos e a dizer lamento", retorquiu D. Januário.
Quando questionado sobre a reacção dos portugueses, se temia algo como na Grécia, D. Januário foi irónico. "As pessoas que votaram nesta coligação devem estar felicíssimas. As pessoas quando votam, deviam pensar por quem votam", disse o bispo das Forças Armadas. "Queria rigor, não uma aventura. E isto é uma aventura", acrescentou.
D. Januário disse que o "repugnava a alteração de alguns feriados" e classificou as medidas como "mezinhas domésticas que mostram o carácter doméstico das decisões tomadas" e deixou um alerta: "A salvação do país não pode ser o fundamentalismo da troika".