A segurança das pontes e barragens nacionais pode estar em risco com o fim do ministério das Obras Públicas, que tutelava o controlo destas infraestruturas, alertou, esta quarta-feira, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos.
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"Se não houver instrumentos e uma estrutura que, pela sua natureza, tenha em conta o planeamento, a gestão e a operacionalização de todas as infraestruturas, a degradação vai ser forte e os custos de recuperação vão ser muito maiores e com consequências do ponto de vista da segurança de pessoas e bens", afirmou o bastonário, em entrevista à Lusa.
Quando questionado sobre as infraestruturas cuja segurança pode estar em causa, por o governo ter optado por acabar com o ministério que as tutela, respondeu: "Pontes. E noutras áreas onde há aglutinações ou agregações também", referindo-se às barragens, a área de especialidade do bastonário, que até há pouco tempo era presidente do LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
A integração da pasta das obras públicas no ministério da Economia "preocupa imenso" Carlos Matias Ramos: "Dá a sensação que o facto de não haver investimentos [em obras públicas] faz com que não tenha de se pensar na obra pública de forma integrada", defendeu.
O bastonário acredita que "é nas situações de seca que se deve pensar nas cheias", e vice-versa, e considera que a actual conjuntura constitui uma "oportunidade única" para reflectir o que de bom se fez e o que de menos bom se fez, e planear o futuro.
"Não se pense que a obra pública é para toda a vida. Tem de ser acarinhada, tem de haver uma preocupação permanente de observação, de gestão, porque se trata da segurança de pessoas e bens", defendeu.
Carlos Matias Ramos critica também a extinção e aglutinação de alguns institutos públicos, como o Instituto da Água integrado agora na Agência Portuguesa para o Ambiente: Estou preocupado com as barragens, com a diminuição da observação dessas infraestruturas que têm de ser permanentemente observadas, senão podem deteriorar-se e conduzir a uma catástrofe".
O bastonário disse não entender o porquê da "redução a zero" da obra pública, "como se fosse a responsável por todas as crises que se instalaram no país".