<p>O afastamento de Fernando Lima da assessoria de Imprensa da Presidência da República surpreendeu os politólogos. Alguns consideram que esta é uma forma de Cavaco se descolar da polémica e que este deve justificar-se ao país o quanto antes. </p>
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Até à hora de fecho desta edição, não tinha sido dado qualquer esclarecimento adicional sobre o caso por parte da Presidência da República (PR). O afastamento de Fernando Lima do cargo foi conhecido a meio da tarde, através de um despacho da agência Lusa, que citava fonte da PR, sem adiantar se aquele iria ocupar um qualquer outro lugar em Belém.
Para os politólogos contactados pelo JN, é importante que Cavaco Silva explique o porquê desta decisão agora. "Caso contrário, ficará a ideia de que há algo a esconder", sublinha Viriato Soromenho-Marques, professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, regente das cadeiras de Filosofia Social e Política e História das Ideias na Europe Contemporânea.
"Este afastamento não esclarece as dúvidas sobre o envolvimento da PR, ao seu mais alto nível, na utilização de um jornal na gestão de um conflito entre dois órgãos de poder", afirma Viriato Soromenho-Marques, acrescentando que "há contornos ainda ambíguos".
António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais, e o sociólogo André Freire, admitiram que não esperavam uma decisão destas por parte de Cavaco Silva antes das legislativas de domingo, até pelo que o próprio dissera.
"Este afastamento é sinal de que o presidente da República se demarca do que foi noticiado na comunicação social e dos passos do seu assessor", refere António Costa Pinto. Por outro lado, continua, "pretende-se evitar a quebra de legitimidade do PR numa fase em que, prevendo-se a existência de um governo minoritário, o poder do PR vai aumentar".
O sociólogo André Freire considera que "este é um assunto que ainda não está totalmente esclarecido e que vai continuar nas notícias". Sobre o afastamento de Fernando Lima, o sociólogo diz que é o reconhecimento, por parte de Cavaco Silva, de que "existiu uma tentativa de "plantar notícias" ou de levar jornalistas a procurar informações específicas".
Poderá este episódio influenciar, de alguma forma, o resultado das eleições legislativas? José Adelino Maltez, professor catedrático na Universidade Técnica de Lisboa, considera que "tudo depende de como reagirão Manuela Ferreira Leite e José Sócrates". De qualquer forma, deixa um aviso: "É melhor deitarem para o caixote do lixo os dossiês de campanha negra e confiarem no PR".
Soromenho-Marques admite que "o assunto vai morrer por aqui, até porque todos vão precisar uns dos outros", enquanto que Costa Pinto afasta, de todo, qualquer influência no resultado das eleições.